Daqui até ao Natal - 3
A arte de fazer o outro feliz é menos exigente do que a arte de ser-se feliz. Há pessoas que têm medo de serem felizes, quantas vezes já ouvimos: é sol de pouca dura; está tudo a correr tão bem que até tenho medo... talvez por a felicidade ser de curta duração, e depois? Então não se aproveita um momento bom porque a seguir vem um mau?
Esta descrença profunda pelo quotidiano, a não aceitação das nossas emoções e daquilo que somos capazes de fazer para ultrapassar cada problema é como uma peçonha que cola como a própria sombra em dia de sol.
Daquilo que eu tenho saudades, é de ouvir risos, conversas alegres...quando venho no comboio raramente se ouvem vozes, muito menos risos, é um silêncio embutido em chumbo, por todo o lado o foco é o telemóvel e os fones nos ouvidos, pescoços curvados como gente muito velha, alheamento total pela paisagem que passa ao longo de cada janela. Vive-se dentro de um ecrã. Ali se partilham todas as emoções, de modo escrito, em fotografia, e por último em áudio (tenho visto muito, coloca-se o telemóvel rente aos lábios e a coisa dá-se), pode parecer uma conversa, mas na realidade não é, é antes um monologo à espera de resposta.
Da janela o céu passa azul velozmente entre as árvores paradas.