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A vida é assim um recorte de tirinhas que mesmo iguais são diferentes, porque a nossa perspectiva, não vem apenas da nossa visão, mas de tudo o que sentimos e daquilo que escolhemos, ou que somos obrigados a entender. Hoje o dia foi feito de muitos momentos desses, tão diferentes como um cabaz repleto das mais variadas frutas. Onde cada uma se destaca à sua verdadeira essência, ou pelo sabor, ou pela cor, ou pela sua origem, pela capacidade de resistência, pela delicadeza, pela doçura, acidez, pela capacidade de ajudar o nosso sistema imunitário.
Seremos nós também assim, como frutas num cabaz, vindas de vários pomares, cada um produzindo o que foi plantado. Cuidar é a melhor semente.
E sendo assim vida com sabor a fruta, também estas palavras me souberam a fruto doce e sumarento que me alimentou o espiríto: "Gosto da forma como ela se diverte com as palavras, brincando com os sons e com as ideias que têm dentro e da ironia de que se serve para embrulhar assuntos sérios".
Obrigada, Teresa Ribeiro.
Ilustração Maki Hasegawa
Estamos no tempo das nêsperas, enquanto os dias se alongam calmamente, as nêsperas são como pequenos sois que anunciam a chegada do Verão, com uns caroços que nos deixam as mãos pegajosas e o seu sumo é capaz de deixar nódoas na roupa dos mais incautos.
Na casa da minha avó havia uma nespereira que dava cachos de nêsperas doces, grandes e redondas, as melhores eram sempre as inalcançáveis à mão, os pássaros mais atrevidos deliciavam-se com elas. Quando o tempo começava a aquecer o meu avô pintava a parte de baixo do tronco com cal, dizia que assim os gatos não mijavam no tronco, nunca cheguei a saber se era realmente verdade. Achava bonito ver assim a árvore engalanada, era sinal que a época das assadas iria começar. Em dias de pescaria que se avizinhavam de pingo no pão, assávamos carapaus manteiga e sardinhas no quintal, comíamos então debaixo de um toldo feito com um cobertor azul claro já velho e fino que era pendurado por cima dos estendais da roupa, a velha mesa de madeira saía para o meio do quintal, os bancos altos de madeira eram os mais cobiçados. Num instante a pinha acendia o lume, nunca compreendi como a minha avó conseguia tal proeza, colocavam-se os pimentos a assar no lume forte, fazia-se entretanto a salada, as batatas já estavam cozidas, mas ainda aconchegadas no calor do tacho. O peixe ia para a grelha, mas antes uma cebola cortada às rodelas era colocada por cima do carvão em brasa, para evitar que se levantasse labaredas, ou em vez disso uma sardinha fazia o mesmo efeito. Fatias de pão grandes e gordas começavam a ficar ensopadas na gordura do peixe, para no fim colocarmos na grelha e comermos o pão torrado. Bebíamos sempre limonada fresca e com muito gelo, adoçada com açúcar amarelo, muito para ficar doce. Depois no final e para sobremesa nêsperas colhidas ao gosto do freguês.
Composição do ramo e legenda:
Trigo, centeio e cevada - Simbolizam o pão.
Rosmaninho - chagas de Cristo
Papoila - sangue de Cristo
Malmequer amarelo - ouro
Malmequer branco - prata
Oliveira - azeite
Videira -vinho
Romãzeira-dinheiro
Desde sempre que tenho em casa um ramo da espiga em casa, durante muitos anos foi-mo oferecido pela minha avó ou pela minha mãe, alguns até eram colhidos por elas, depois do falecimento das duas passou a ser a minha sogra a oferecer-mo. Agora já nenhuma das três o faz, no entanto junto com o ramo ficam as boas memórias.