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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alicinha Contina hoje não foi à escola!

29
Nov19

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Alicinha Contina hoje não foi à escola, é sexta-feira e aproveitou a greve do pessoal não docente para fazer um fim-de-semana grande e como é dia de  Black Friday, vai aproveitar e gastar o seu salário mínimo em grandes compras, procura essencialmente um abafador de som, comprimidos para as dores ou pomadas, ou até consultas de fisioterapia ou afins em pacotes de desconto. 

 

 

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A Alicinha tem um emprego para a vida, com um aumento salarial também para a vida, porque a Alicinha só será aumentada perto da reforma, isto se chegar lá. Alicinha lavará sanitas de andarilho, e deixará os meninos andarem uma voltinha na sua  Stannah Mini, claro que a Alicinha não se sente explorada quando ganha uma miséria, afinal limpar não custa nada, qualquer um pode fazê-lo.

 

 

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O trabalho da Alicinha é rotineiro, passa o dia a abrir carcaças e a por fiambre no pão, a gritar com os meninos e a lavar o chão. Só trabalha 35 horas semanais, afinal o que ela quer mais!? Pastilhas para a tosse. 

 

 

 

Ó Alicinha Contina, qual a correlação entre a falta de auxiliares nas escolas e o aumento da violência em meio escolar?

07
Nov19

Nenhuma. É apenas um mero acaso, de que quando se fala em violência em meio escolar, alguém venha dizer que existe falta de auxiliares. Não há falta de auxiliares. Há auxiliares clonadas desde 2006, que se encontram numa estação quântica à espera de parafusos para poderem actuar através da inteligência artificial, enquanto isso as que já morreram vão fazendo vigilância fantasma, o problema está aí, porque sendo elas de outra dimensão não conseguem dar o corpo ao manifesto, sendo que neste caso se manifesta em separar gaiatos e gaiatas. 

Amianto nas escolas

19
Out19

Muito se tem falado do amianto nas escolas, há telhas partidas há anos, derrubam-se também árvores a torto e a direito nas escolas, fazem-se projectos de reciclagem, ganham-se prémios, há visitas de estudo, desporto escolar, unidades de multi-deficiência, e também uma série de actividades que tornam a escola mais apetecível, mais dinâmica aos olhos de quem a vê. Envolve-se o poder local, os pais, os alunos, os professores, há então a recepção educativa e os jantares de grupo. 

 

Depois há as notícias das escolas fechadas por falta de auxiliares - assistentes operacionais - e as Câmaras que cedem os seus assistentes operacionais para as escolas, para que estas continuem a funcionar. Há pessoas de baixa, há doentes, há velhas quase na reforma, cada vez menos gente para mais trabalho. O trabalho é desgastante, tanto físico como mental, há um rácio estipulado, por alguém do Ministério da Educação, que nunca vem ver realmente o terreno, quando alguém entra de baixa, são os colegas que ficam com o seu trabalho, isto pode acontecer tanto com uma ou mais pessoas, passaram-se anos nisto, nunca ninguém é substituído, são os outros colegas que passam a ter a obrigação de fazer o que outra pessoa fazia, se os professores faltam, se não há professor colocado, se há visitas de estudo, se há desporto escolar, são os auxiliares que ficam com a missão de vigiar toda esta gente que anda pelo espaço escolar sem aulas. Isto acontece cada vez mais, porque a escola a cada dia que passa tem mais para dar em termos curriculares. 

 

E há o amianto. 

 

As auxiliares também prestam primeiros socorros, acompanham os alunos ao hospital quando é imprescindível, o que acontece bastante. E há a multi-deficiência em que os auxiliares agem muitas das vezes como enfermeiros. Os auxiliares tanto podem desempenhar funções num bar, como numa reprografia, ou na papelaria, atender chamadas telefónicas ou estar na portaria. Varrer e despejar lixo. Mudar fraldas, medir a febre, acalmar, basicamente os auxiliares das escolas são cuidadores. 

 

E depois há o amianto. E as fotografias de grupo com os professores e os alunos. Há ainda o Ministério da Educação, mas parece que vamos ser municipalizados, ou seja empurrados para outro terreno, o que faz todo o sentido, pois não aparecemos em nenhuma fotografia nem em nenhum projecto, nem em recepções, nem nas notícias dos jornais, as nossas greves não são explícitas, não sabemos bem para que servimos, não temos carreira especifica. Tanto podemos estar com os meninos, como ir para o cemitério abrir covas. 

 

Continuando com o amianto, há amianto nas escolas, mas não sei o que nos mata primeiro, se ele se a exaustão. 

 

 

 

 

 

 

Conversas da escola - Alicinha Contina, o que tens a dizer sobre os questionários sobre orientação sexual feitos na escola aos meninos do 5º ano?

11
Out18

São a prova provada que os meninos a partir do 5º ano são muito autónomos. Passo a explicar: estou farta de perguntar, a quem tenho por superior, tanto acima como mais acima, porque é que os meninos quando vêm da escola primária deixam de ter necessidades especiais e de acompanhamento. A resposta está nesses inquéritos de certeza, na revelação de uma extensa experiência de vida, quanto ao que me dizem é que as crianças, agora jovens quase adultos, ainda falta o quase, mas adiante, são mais autónomos. Em dois meses cresceram tanto, meus ricos meninos. São as artes mágicas dos que falam e nadam fazem.