Os lírios do campo
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
Quero saber como crescem
simples e belos — perfeitos! —
ao abandono dos campos.
Antes que o sol apareça,
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.
Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.
Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.
Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre lírios
adormecerei tranquila.
Poema de Henriqueta Lisboa
É verdade que as palavras deixaram de ter o seu significado original, será preciso criar uma nova identidade, uma criação absurda toldou-nos a percepção entre o bem e o mal, a mentira dita com serenidade pode atingir o mais ínfimo neurónio.
Não são cartazes expostos nas paredes, nem murais com figuras alusivas à época, são imagens captadas em tempo real, 2022, destruição massiva, vidas entre vidas. O que são agora futilidades? Um pedaço de pão? Um filme cómico? Um amor não correspondido? Um copo de água? Um abraço? Uma noite de silêncio? Um campo verde? Uma estrada? Um vaso à janela?