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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Sabores nossos

24
Set21

alho louro e azeite.jpg

Ilustração Ada Florek

 

Pega-se em metade do Oceano
e juntam-se-lhe terras desconhecidas.
Deixa-se marinar alguns anos
e tapa-se com um manto de neblina.
Lavam-se as saudades em lágrimas
e põe-se a glória em banho Maria,
para voltar a usar um dia.
À parte coloca-se o fado bem apurado,
o futebol bem jogado, e um ou outro pregão
das entranhas gritado.
Desfaz-se a língua em poemas,
odes e cantigas
ou então canta-se à desgarrada.
Rima improvisada.
Numa grande forma de barro
escalda-se o Algarve e o Alentejo,
salgam-se as Beiras e desfaz-se em água
o Douro e o Ribatejo.
Para terminar abanam-se as Oliveiras
com sabedoria ancestral.
Rega-se tudo com um fio dourado.
E serve-se assim Portugal,
como prato principal.

Poema "Receita" Azeite Gallo

 

Almocinho de domingo

20
Jun21

almocinho.jpg

Durante muitos anos a minha alimentação foi essencialmente à base de peixe, peixe bem fresco, acabado de pescar pela madrugada, lá em casa era raro comer-se peixe ou carne congelada. A não ser quando o velho lobo do mar chegava da Mauritânia e trazia garoupas, pargos rosados, lagostas, corvinas, cada posta ultrapassava largamente o diâmetro do prato, nessa altura eu não sabia o quanto era privilegiada por ter à mesa destes manjares, desconhecia completamente o que era carne com gordura, nem sabia que se cozinhava entremeada, só a partir dos vinte cinco anos conheci tal iguaria. 

A minha cozinha cheira a Algarve e a Alentejo, muitas das vezes os dois se misturam, trazendo deliciosas memórias que teimo em partilhar. De há dois anos para cá que voltei a privilegiar a compra de produtos locais, são sabores  mais genuínos, com pouco tempo de recolha entre o produtor e o consumidor, são produtos da época, com a sabedoria da Natureza. Hoje deliciei-me com morangos maduros da zona de Palmela, grelos de couve-nabo, chocos frescos da nossa costa de entre outros que comprei. 

Há quem afirme que os produtos são mais caros que nas lojas comerciais onde existem variadas promoções, não vejo isso, sendo que hoje comprei os morangos a euro e meio o quilo, ora onde é que se conseguem promoções destas nos super, vendem sim a esse preço mas é só meio quilo, alfaces tenras e saborosas a cinquenta cêntimos, e não são pequeninas, toda a fruta tem a doçura que o sol lhe confere. 

Encanta-me aquela relação de proximidade entre quem produz e quem compra,  é um gosto ver o orgulho com que descrevem os seus produtos. Encantam-me aquelas mãos de dedos grossos e marcados pelo sol, marcas de labuta. É com enorme gratidão que trago isto tudo para casa. 

 

Tarte de maçã de Palmela e mandioca do Brasil com,

Moscatel de Setúbal

17
Abr21

maçã.jpg

 

Num destes dias comprei um pacotinho de mandioca hidratada, tinha curiosidade em saber o seu sabor, hoje aventurei-me a misturar alguns ingredientes para chegar àquilo que imaginei, decidi unir o Brasil a Palmela, Brasil porque não sei qual a verdadeira zona de origem da mandioca. 

A mandioca tem um cheiro um tanto ou quanto merdozo, cheira muito mal. Bem continuando, untei com margarina o fundo de uma tarteira, cortei seis maçãs nascidas e criadas na região de Palmela, intercalei com açúcar e canela, depois reguei com Moscatel de Setúbal e coloquei tudo no forno, com o lume brando. Entretanto, fui fazer a massa, coloquei então, um púcaro pequeno cheio de açúcar, mais dois ovos, bati ligeiramente, juntei-lhes um copo com água, vindo directamente da torneira, bati novamente, de seguida um pouco de azeite e canela, bati novamente, e por fim um púcaro de farinha com fermento e outro de mandioca hidratada, bati tudo até ficar uniforme. Retirei forma com as maçãs que estava no forno, e coloquei por cima a massa, foi então novamente ao forno, sempre em lume brando. Deixo a ciência a fazer o seu trabalho, e espero calmamente que os sabores se misturem. Vou olhando a cozedura de vez em quando, e observo como a maçã mirra e deixa o suco misturar-se aos outros ingredientes, dando um ar dourado e uniforme à tarte. Quando achei que as maçãs estavam quase no ponto, meio assadas, coloquei-lhes um pouco de açúcar por cima, e deixei que derrete-se. Havia no ar um cheiro gostoso a maçã e canela. 

Hoje fiz...

Bolo-Rei

27
Dez20

bolo-rei.jpg

 

Agora dá-me para fazer doces sem livro de receitas,  a bem da verdade sempre o fiz, não consigo seguir uma receita à letra, no entanto, agora nem tomo nota do que faço, é como se fosse uma aventura baseada na experiência. E correu muito bem, tão bem que os vestígios estão a ficar escassos. Ficam aqui as provas. Para mais tarde recordar. As broas são restos de Natal e são de batata doce e amêndoa, dessas restam apenas duas, os outros já se foram, para bem dos estômagos cá da casa, cão incluído. 

 

broas de batata doce e amendoa.jpg