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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

O país que valoriza o f

favores, facilidades, futilidades, fisco, fraude...

04
Fev20

 

 

Portugal é um país de facilidades e de favores, de futilidades bacocas. Fiquei a saber por estes dias, que somos o contentor de lixo da Europa, que "os aterros de Azambuja (Ribatejo) e de Ota (Alenquer), no distrito de Lisboa, vão receber 79 mil toneladas de resíduos do estrangeiro até finais de Janeiro de 2021, conforme acordos celebrados pelo Estado português com outros países", e que o preço por tonelada de lixo custa “cerca de 11 euros, quando esse valor se situa entre os 80 e os 100 euros na maioria dos países membros”, se olharmos para a factura da água da nossa casa, podemos verificar que pagamos muito mais pelo nosso lixo doméstico, do que quem para cá vem se aproveitar deste negócio. Sendo que muito do nosso lixo doméstico já é reciclado pelos próprios, o que reduz ainda mais aquilo que vai para o aterro.

 

O que vai para estes aterros fica a céu aberto, sendo um manancial para as aves e provavelmente para outros animais, para quem mora perto fica o cheiro nauseabundo que têm todos os dias. A população da Azambuja, no Ribatejo reclama dizendo que “Começámos a assistir ao crescimento de uma montanha gigante de lixo. São barcos que chegam a Portugal, vindos de Itália, do Reino Unido, da Holanda, com dezenas de contentores”, queixa-se Margarida Dotti, relatando que o lixo é descarregado “todas as noites” mesmo “debaixo das janelas” das habitações. A Câmara Municipal da Azambuja desresponsabiliza-se dizendo que o aterro  foi autorizado há anos pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e, portanto, são eles os responsáveis, não somos nós na Câmara Municipal”. Como chamam a isto desenvolvimento regional, compreendo finalmente porque escavam o Sado, e assassinam o seu estuário e o seu já frágil ecossistema, para que haja um mega porto de contentores, muito lixo há-de chegar... o porto oceânico de Sines é a principal porta de entrada, recebendo 64%, seguido do porto de Setúbal, com 20%, e do porto de Figueira da Foz (15%).

 

Portugal recebeu em 2018 cerca de 331 mil toneladas de resíduos perigosos, das quais 220 mil foram para valorização e 111 mil para eliminação, sendo Itália e Malta os países que enviaram mais resíduos para tratamento. Os dados constam do relatório mais recente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre o Movimento Transfronteiriço de Resíduos, de 2018 (os dados de 2019 encontram-se em validação), que refere terem também entrado no país 2,2 milhões de toneladas de resíduos não perigosos naquele ano. Sabe-se ainda que em 2018 deram entrada 220 mil toneladas, relativas a 94 processos, significando um crescimento de 43% face ao ano de 2017. Para compor em 2018 a maioria das entradas de resíduos perigosos para eliminação (54%) destinaram-se diretamente para deposição em aterros, sendo a operação de tratamento físico-químico remetida para segunda posição. Como se pode ver este  é um processo de modernização do país e uma mais-valia para as novas gerações.  A APA diz que os resíduos perigosos entram no país tanto pelas fronteiras terrestres, por via rodoviária, como pelas fronteiras marítimas, sendo que em 2018 entraram principalmente via navio e, posteriormente, comboio e/ou camião até às instalações de tratamento respetivas. Este volume passou das cerca de 60 mil toneladas em 2017 para as 250 mil toneladas em 2019.

 

As perguntas que se fazem: porque temos que levar com o lixo dos outros? Haverá desresponsabilização das entidades quanto à saúde pública? Chama-se a isto desenvolvimento regional? Porque continuam a escavar o Rio Sado para que seja um porto de águas profundas, quando as suas características são na verdade o contrário? A quem interessa o negócio do lixo, sendo o preço da tonelada uma ninharia? Porque temos nos nossos aterros resíduos perigosos vindos de outros países, entre os quais: Reino Unido, Itália, Países Baixos, Gibraltar e França? Não serão estes países capazes de serem auto-suficientes? Ou fica mais barato por o lixo num contentor? 

 

Vamos ter Lisboa Capital Verde Europeia 2020, a Azambuja fica logo ali ao lado, possivelmente haverá um passadiço em madeira até ao aterro, para que se possa sentir o maravilhoso cheiro que a população tem e será criado um miradouro  onde os turistas vão desfrutar da vista, talvez até haja umas actividades interactivas, tais como sejam: esmagar um plástico, chafurdar nas lamas, ou fazer padlle na montanha. 

 

Já agora, podem também vir a Setúbal, porque isto aqui passou a ser um bairro da capital, contar as carcaças das gaivotas que têm aparecido nas praias e também as dos golfinhos, fazer mergulho ao pé da draga para que consigam ouvir a música dos motores como se fossem roazes e os seus cérebros se guiassem por sons, era bom também apreciarem onde são depositadas as areias retiradas do leito do rio, é num local mágico, que se chama Restinga, vulgo: maternidade, onde nasce muita espécie de vida marinha. Futuramente poderão vir a degustar peixe e moluscos em cama de metais pesados. Será uma iguaria divinal!

 

E é assim, a culpa é do f...

 

 

Ler mais em ZAP e A//Portugal.

 

 

 

 

Um Natal no Rio

15
Dez19

Era uma vez um Rio, que corria de Sul para Norte, passava por serras, montes e vales, e vinha desaguar a um estuário que tinha como fim um Oceano imenso. Esse rio era manso e azul, "em certos dias tinha mesmo a cor do céu", as suas margens eram gémeas e nele viviam muitos animais. Tinha uma das pradarias marinhas mais importantes do país, onde nasciam as mais variadas espécies, e que serviam também para alimentar e proteger os golfinhos que por lá viviam, as pessoas que por ali viviam faziam desse espaço o seu modo de vida, e no mercado daquela cidade havia muito bom peixe, faziam até festivais alusivos à qualidade desse peixe, por diversas vezes a imprensa falou disso e as pessoas vinham de muito longe para comer peixe nessa cidade. 

No entanto um dia o céu escureceu e o rio ficou da cor do chumbo, as suas lamas foram revolvidas e foi aberta uma grande fenda no leito do rio, era um buraco imenso por onde podiam entrar grandes navios, uma verdadeira auto-estrada marinha, para abrirem essa fenda levou-se muitos dias, seis meses, dia e noite a draga retirava areia e mais areia e tudo o que viesse atrás, o rio ficou castanho, as pradarias morreram porque não tinham oxigénio, devido às águas turvas e contaminadas pelos depósitos que tinham ficado durante décadas no leito do rio, os golfinhos adoeceram, ninguém sabe se vão sobreviver, são cerca de duas dezenas apenas.

 

No Verão aquela cidade era muito visitada, muitos famosos iam lá comer e passear naquele rio, mas nenhum deles se importou com aquela matança, nem mesmo sabendo que as areias retiradas do rio iam ser depositadas em frente às praias da zona, naquele tempo o orçamento de Estado contemplava medidas contra as alterações climáticas e eram punidas as pessoas que maltratavam gatos e cães, algumas pessoas manifestaram-se contra esta grande maldade que estavam a fazer ao Rio, que era a casa de muita gente com escama e sem escama, houve uma petição contra esta destruição do nosso património natural, que atingiu o número suficiente para ser discutida em Assembleia da República, mas ninguém ligou patavina, porque o dinheiro é o mais importante, principalmente quando é muito. 

 

A grande árvore metálica e reluzente continua a brilhar na avenida principal da cidade, é Natal, a draga está a postos nas águas calmas do Sado, as pessoas fazem compras apressadas, e agasalham-se por causa do frio, vão para casa, algumas acendem lareiras, sentam-se confortavelmente à sua mesa, na sua casa, no seu espaço, no sítio que mais preservam. Entretanto a draga continua a destruir a casa dos outros. Mas que importa isso é Natal!

 

Feliz Natal!

 

 

 

 

Conversas da escola - Qual é a temperatura por estes dias no bar

24
Jan19

Atrás do balcão do bar da escola trabalha-se com 12º C, está um frio do caneco, parece que estamos em plena rua, apenas com uma diferença: não temos o casaco grosso no corpo, porque é impossível trabalhar assim vestida, a única salvação é o chá a ferver. Digam lá que o meu patrãozinho não é bonzinho? O chá pago eu, mas a água dá-me ele. 

Pensionistas aumentados...

10
Ago17

...a partir deste mês, terão direito a aumento. São cerca de dois milhões de reformados que, no conjunto das suas pensões, recebem até 631,98 euros...

 

Ó pá e a malta que recebe o salário mínimo há anos, não tem um aumentinho extra? Não? Ao menos para o café? Vá lá. Tenham dó. Dêem qualquer coisinha. Vá lá. 

 

 

Alice Alfazema