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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Diário dos meus pensamentos (33)

21
Abr20

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Ilustração Alireza Darvish

 

Se cada pessoa escrevesse um livro sobre a vivência desta época da quarentena, haveria muitos que seriam acusados de plágio, ora porque tinham pensamentos e sentimentos iguais, ora porque escreveram com as mesmas palavras, será que há palavras suficientes para descrever estes momentos vividos em casa sem que haja repetições? E os professores dirão: descreve isso por palavras tuas. E se as dele forem também as dos outros? Não são válidas? Não, dirão alguns. Tens de acrescentar algo novo, escreve a frase de trás para a frente para dar outra perspectiva. Então quem disser primeiro é o melhor? Sim. Porquê? É como correr uma maratona, todos correm, mas quem chega primeiro é que ganha. É assim tão simples? É. Basta registares a ideia primeiro. O que vier depois são plágios. E nós somos plágios uns dos outros? Uma vez que aprendemos com o exemplo, se copiarmos os exemplos somos plágios uns dos outros. Então não há nada de novo? Há, tudo é novo para quem descobre, mas há uns que descobrem primeiro que os outros, depois tudo fica igual. 

 

A minha vizinha hoje estendeu as luvas descartáveis. Cada luva tinha uma mola de cor diferente. 

 

#diariodagratidao 23-04-2019

23
Abr19

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Ilustração  Mar Azabal

 

Se eu pudesse havia de transformar as palavras em clava.
Havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante, sem música.
Como um gesto, uma pancada brusca e sóbria.
Para quê todo este artifício da composição sintáctica e métrica?
Para quê o arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras, pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo.
Vejo, admiro, desejo?
Ou sim ou não.
E como isto continuando.

 

 

 

 

 

E gostava para as infinitamente delicadas coisas do espírito…
Quais, mas quais?
Gostava, em oposição com a braveza do jogo da pedrada, do tal ataque às
coisas certas e negadas…
Gostava de escrever com um fio de água.
Um fio que nada traçasse.
Fino e sem cor, medroso.

 

 

Ó infinitamente delicadas coisas do espírito!
Amor que se não tem, se julga ter.
Desejo dispersivo.
Vagos sofrimentos.
Ideias sem contorno.
Apreços e gostos fugitivos.
Ai! o fio da água , o próprio fio da água sobre vós passaria,
transparentemente?
Ou vos seguiria humilde e tranquilo?

 

 

 

Irene Lisboa

 

 

 

#diariodagratidao 02-04-2019

02
Abr19

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Ilustração  Miren Asiain Lora

 

 

E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?

 

José Saramago