Micro contos: A chacha da chachada
O discurso fluía naturalmente, as palavras foram ditas de forma generalizada, sem nenhuma evidência daquilo que era suposto supostamente, num timbre pomposo e ríspido a chacha saía freneticamente da chachada.
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O discurso fluía naturalmente, as palavras foram ditas de forma generalizada, sem nenhuma evidência daquilo que era suposto supostamente, num timbre pomposo e ríspido a chacha saía freneticamente da chachada.
Sinto saudades de algumas pessoas que tinham blogs, é que mesmo sem as conhecer pessoalmente, ou virtualmente, sem ter noção do seu rosto ou do seu corpo, sinto saudades das suas palavras escritas, que é como quem diz: da conversa posta avulso, sem esperar comentários, das opiniões e dos desabafos que ou fim e ao cabo são comuns a todos, a uns mais que a outros.
As saudades de outros escritos, das viagens contadas como fôlegos quentes, daqueles que deixam vapor nos espelhos, dos diálogos banais que identificamos também como nossos, do quotidiano em paralelo que encolhe a solidão, enfim da vida posta em palavras sem som, naquilo que nos une ou nos afasta, sem filtros (como agora se diz, deixa-me rir, que se inventam palavras e expressões para assuntos velhos, é nestas alturas em que me sinto um dinossauro a ruminar demoradamente umas folhas de palmeira nuns trópicos virtuais).
E aqui estou eu, na fúria do açúcar, partilhando uns suspiros escritos em frases pronunciadas num teclado. Há quem assuma que os suspiros são tristeza de um canto da alma, alguns são suspiros vindos do coração, respiração profunda, coisa que refresca o ânimo, ou um suspiro de inspirar aquele cheiro que queremos guardar bem dentro de nós, um suspiro é "um básico" no armário da recordação.
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*¨¨*vida*
**amor*¨¨**
**justiça**¨¨*amizade**
**carinho*¨¨*tempestade*¨¨*dia**verde*
***¨¨**união***¨¨**azul***¨¨***liberdade**aves*¨¨*noite***luz**
******calor**¨¨¨¨***mar***humor****estrelas***¨¨****árvores**¨¨**sonho*****
*música***rio**¨¨**terra**¨¨**flores*¨¨*fauna******¨¨*****pintura*********
***¨¨**casa****¨¨**futuro****¨¨¨****família**¨¨***reencontro****¨¨*festa**¨¨*
****¨¨***saúde*****¨¨****amigos**¨¨**saudade***¨¨**teatro****¨¨****
Num fim de tarde a Vida encontrou-se com o Amor, há muito que não se viam, pois a Justiça desfez a Amizade que havia entre os dois, levou-lhes o Carinho, transformou os seus pensamentos em Tempestade, a partir desse Dia o Verde perdeu o viço. Essa União era Forte parecia imensa como o Azul do céu, trazia consigo a Liberdade que ergue as Aves num voo pleno. Depois fez-se Noite e apagou-se a Luz que os ligava, morreu o Calor e o Mar ficou revolto, nem o Humor, nem as Estrelas, nem as Árvores conseguiram dar corpo ao Sonho, foi a Música que suavemente atravessou o Rio até à Terra que havia na outra margem, nesse sítio onde as Flores e a Fauna pareciam um Pintura, havia ao longe uma Casa pintada de Futuro onde morava uma Família que preparava o Reencontro e a Festa, vestiram-se de Saúde esperando os Amigos, a Saudade enchia o espaço, devagar o pano cobriu o palco e as palmas ecoaram no Teatro.
Tenho em mim o cheiro dos dias de nevoeiro na praia, do cheiro da areia molhada, da maresia escondida. Recordo que quando o sol ultrapassa a nebulosidade, e os seus raios se encontram com a areia, o cheiro intensifica-se até o calor se instalar por completo, depois acabou, começa então o sabor a sal no ar. Os olhos habituam-se ao intenso clarear, à descoberta daquilo que havia estado escondido. No bote o homem sabe ao que vai, regressa da calada da noite, trazendo a madrugada consigo, fumando um último cigarro, aproveitando a solidão que lhe resta, pelo ar ecoam as sirenes dos navios a entrar e a sair da barra.