Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

A fúria do açúcar

08
Out22

IMG-20221007-WA0001.jpegSinto saudades de algumas pessoas que tinham blogs, é que mesmo sem as conhecer pessoalmente, ou virtualmente, sem ter noção do seu rosto ou do seu corpo, sinto saudades das suas palavras escritas, que é como quem diz: da conversa posta avulso, sem esperar comentários, das opiniões e dos desabafos que ou fim e ao cabo são comuns a todos, a uns mais que a outros. 

As saudades de outros escritos, das viagens contadas como fôlegos quentes, daqueles que deixam vapor nos espelhos, dos diálogos banais que identificamos também como nossos, do quotidiano em paralelo que encolhe a solidão, enfim da vida posta em palavras sem som, naquilo que nos une ou nos afasta, sem filtros (como agora se diz, deixa-me rir, que se inventam palavras e expressões para assuntos velhos, é nestas alturas em que me sinto um dinossauro a ruminar demoradamente umas folhas de palmeira nuns trópicos virtuais).

E aqui estou eu, na fúria do açúcar, partilhando uns suspiros escritos em frases pronunciadas num teclado. Há quem assuma que os suspiros são tristeza de um canto da alma, alguns são suspiros vindos do coração, respiração profunda, coisa que refresca o ânimo, ou um suspiro de inspirar aquele cheiro que queremos guardar bem dentro de nós, um suspiro é "um básico" no armário da recordação.

 

IMG-20221007-WA0003.jpeg

quando se juntam palavras soltas

23
Mar22

*

*¨¨*vida*

**amor*¨¨**

**justiça**¨¨*amizade**

**carinho*¨¨*tempestade*¨¨*dia**verde*

***¨¨**união***¨¨**azul***¨¨***liberdade**aves*¨¨*noite***luz**

******calor**¨¨¨¨***mar***humor****estrelas***¨¨****árvores**¨¨**sonho*****

*música***rio**¨¨**terra**¨¨**flores*¨¨*fauna******¨¨*****pintura*********

***¨¨**casa****¨¨**futuro****¨¨¨****família**¨¨***reencontro****¨¨*festa**¨¨* 

****¨¨***saúde*****¨¨****amigos**¨¨**saudade***¨¨**teatro****¨¨****

 

Num fim de tarde a Vida encontrou-se com o Amor, há muito que não se viam, pois a Justiça  desfez a Amizade que havia entre os dois, levou-lhes o Carinho, transformou os seus pensamentos em Tempestade, a partir desse Dia o Verde perdeu o viço. Essa União era Forte parecia imensa como o Azul do céu, trazia consigo a Liberdade que ergue as Aves num voo pleno. Depois fez-se Noite e apagou-se a Luz que os ligava, morreu o Calor e o Mar ficou revolto, nem o Humor, nem as Estrelas, nem as Árvores conseguiram dar corpo ao Sonho, foi a Música que suavemente atravessou o Rio até à Terra que havia na outra margem, nesse sítio onde as Flores e a Fauna pareciam um Pintura, havia ao longe uma Casa pintada de Futuro onde morava uma Família que preparava o Reencontro e a Festa, vestiram-se de Saúde esperando os Amigos, a Saudade enchia o espaço, devagar o pano cobriu o palco e as palmas ecoaram no Teatro.

Debaixo do sol

28
Set21

IMG_20210926_094703.jpg

 

Tenho em  mim o cheiro dos dias de nevoeiro na praia, do cheiro da areia molhada, da maresia escondida. Recordo que quando o sol ultrapassa a nebulosidade, e os seus raios se encontram com a areia, o cheiro intensifica-se até o calor se instalar por completo, depois acabou, começa então o sabor a sal no ar. Os olhos habituam-se ao intenso clarear, à descoberta daquilo que havia estado escondido. No  bote o homem sabe ao que vai, regressa da calada da noite, trazendo a madrugada consigo, fumando um último cigarro, aproveitando a solidão que lhe resta,  pelo ar ecoam as sirenes dos navios a entrar e a sair da barra.  

 

IMG_20210926_100107.jpg

 

Estrelas no chão

14
Set21

estrelas no chão.jpg

Fotografia Artur Pastor

 

Há tantas coisas em que nunca pensámos por falta de tempo! Na esperança, por exemplo. Quem vai perder cinco ou dez minutos a pensar na esperança, quando pode usá-los muito mais proveitosamente a ler um romance ou a falar ao telefone com uma amiga, a ir ao cinema ou a redigir ofícios no emprego? Pensar na esperança, que coisa imbecil! Até dá vontade de rir. Na esperança... Sempre há gente... E ela metida como areia nas pregas e nas bainhas da alma. Passam anos, passam vidas, aí vem o último dia e a última hora e o último minuto e ela então aparece a tornar inesperado aquilo por que esperávamos, a fazer o que já era amargo ainda mais amargo. A tornar mais difíceis as coisas.

 

Maria Judite de Carvalho, in Tanta Gente, Mariana