Quero ir para a escola
Estando eu a lembrar-me frequentemente, através dos gritos ocos que ainda tenho na memória, da algazarra que havia todos os dias nos pátios da escola, das filas para a entrada, das saídas em grande pressa, e daqueles que iam para a escola de manhã só tendo aulas à tarde, e dos que só tinham aulas de manhã e ficavam lá pela tarde fora, dos que levavam as bolas de futebol dentro de um saco do Pingo Doce, para as grandes jogatinhas entre os intervalos, os feriados e os tempos em que apenas o convívio faz falta, e a escorrer suor iam buscar garrafas de água, e mais qualquer coisita para comer, porque o corpo precisa de ser alimentado, e a malta está a crescer. E dos que estando a terminar o terceiro ciclo não tiveram tempo de iniciar namoros, nem coragem para juntar lábios e línguas, num despertar de Primavera de uma vida toda pela frente. E do que lhes dizia frequentemente: ainda vão ter saudades nossas...
Muitos não terão ainda acesso à tão falada e elogiada escola virtual, a desigualdade social agudizou-se, mas todos terão saudades das jogatinas com os amigos, das confidências e dos dramas vividos ao vivo e a cores, do cheiro da sala de aula, e do balneário do ginásio, de mandar recados às miúdas e aos miúdos que consideravam mais giros, das brigas, das corridas até ao bar, do grito das Continas por deitarem o lixo para o chão, do curativo feito no posto médico, mesmo que quase não se veja a ferida, do chá de limão que dá para tudo e mais alguma coisa, do professor chato que mandou arejar as ideias, das mesas de pingue-pongue, e dos empurrões à máquina da bolachas, de encomendar uma pizza e ir comer para o polivalente com os amigos, das tostas mistas cheias de manteiga e queijo derretido, do cansaço e da seca que era a escola.
Fará parte da nossa história o momento que estamos a viver, que nos torne melhores e mais inclusivos, que sirva para perceber a diversidade que há em cada lugar e principalmente a importância da valorização do trabalho em equipa num espaço tão dinâmico.