Descolaborar
Ilustração Alberto Pancorbo
Há medida que o tempo passa e a sociedade se transforma noutras dinâmicas adoptam-se novas formas de interpretar as palavras, por vezes distorcendo a realidade, para o mesmo fim. Se num passado relativamente recente se atribuía a palavra trabalhador a quem vendia a sua força de trabalho, seja ela qual fosse, hoje é frequente ouvirmos falar em colaboradores, dando assim um ar mais levezinho à árdua tarefa de trabalhar, diz-se até que o colaborador é aquele que para além de trabalhar colabora na missão da empresa, num patamar horizontal, como colegas, dando a entender que quando a pessoa colabora é muito mais que um trabalhador. E o que será realmente colaborar neste contexto? Pessoa que trabalha em iguais circunstâncias de iniciativa, dizem. Ora segundo regras definidas um trabalhador por lei está sujeito a um contrato de trabalho, pago por determinado horário e respectiva carga laboral. Mas um colaborador tem de ser mais que isto, tem de dar tudo de si, conseguir fazer escolhas entre trabalho e família, trabalhar fora de horas, nas mais diversas condições, feliz, ter iniciativa, ser dinâmico, estar sempre presente, apresentar resultados, estar informado, ser formado, enfim ser colaborador é a nova dimensão que se dá ao trabalhador que recebe um salário.
Quando um trabalhador cessa o seu contrato tem direito a subsidio de desemprego, quando um colaborador cessa o seu contrato de trabalho tem direito a subsidio de descolaborador, porque não ficou sem emprego, ficou sem colaboração. O valor do trabalho, chamado assim, dá uma conotação industrial ao ato laboral, coisa de suor e pouca instrução, no entanto o valor do colaborador chega a parecer de maior importância, tal como dizermos prenda ou presente, encarnado ou vermelho.