De Portugal até ao Brasil
Alberto Souto de Miranda & Jorge Seif Júnior
“os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem”
“o peixe é um bicho inteligente. Quando vê uma manta de óleo foge, tem medo”
Ilustrações Armandinho
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“os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem”
“o peixe é um bicho inteligente. Quando vê uma manta de óleo foge, tem medo”
Ilustrações Armandinho
Que caminho é este, que parece levar ao mar, mas não, para além dele há serras e montes, só depois os rios e o mar. É um caminho estreito, com uma estrada já gasta, pouco estimada, ladeada de seres silenciosos e verdes, que abanam com o vento, acolhem a chuva e os pássaros, tem compromissos com os insectos, dão sombra fresca e purificam o ar que respiramos.
Que caminho é este que percorremos em estado neurótico, dando prioridade à especulação, ao egoísmo e à ganância. Que estrada tão sinuosa e cheia de armadilhas, onde a miséria se mantém à espreita sentada em baloiços de oiro, empurrados pela ignorância e com lacinhos de sadismo.
Que caminho é este que afunila a cada dia, entrando cada vez mais gente em carreiro, dão tudo o que não têm, dão tudo o que não podem, têm os dias contados, mas pensam que têm a eternidade, e vão, sem virem, num único sentido, nada têm consigo, vazios, vagos, vendidos. Vendem-se sem valor, casos ocos, mudos, sem atitude.
Agora que terminaram as férias, agora em que as praias da Arrábida e Tróia, vão ficar vazias de gente, agora começa outra história. Agora que terminou a partilha de fotografias de golfinhos e festas de vinho e barco, de bronzeados e gelados, agora que se dá o regresso às aulas e se come menos sardinha assada. Agora começa outra história. A história das dragagens no Rio Sado, na casa dos golfinhos, junto às pradarias marinhas, junto à desova da malta que habita no rio, no habitat de muitas espécies de aves, isto tudo bem perto das praias afamadas nas mais diversas revistas, nacionais e internacionais. Onde se faz canoagem, remo, paddle, onde hoje se começa a viver o rio.
Eu não quero muito, quero apenas que todos aqueles que usufruem deste paraíso - que fica numa das mais belas baías do mundo - que fazem propaganda, escrevem e partilham fotografias deste sítio maravilhoso e único, apareçam no dia 28 de Setembro de 2019, em Setúbal - e dêem a cara, a voz e a vontade - para a manifestação contra as dragagens no rio Sado, lutar contra aquilo que é pretendido com isso - transformar esta parte do rio num porto de águas profundas - tendo já um porto com estas características em Sines - é desproporcional, anti-natura, anti-ético.
Resta pois, chafurdar nestes interesses instalados, para que fique ao de cima aquilo que tentam esconder. O Sado é património de todos e sobretudo das gerações vindouras, o futuro faz-se agora, não com ideias da Revolução Industrial, ultrapassadas e comprovadamente erradas. O futuro faz-se sim, a pensar numa economia que possa incluir todos os sectores que envolvem a comunidade e o meio ambiente, onde se possa coexistir e usufruir do melhor que tem este planeta que se chama de Azul, curiosamente este rio - o Sado - também é apelidado de Azul.
Se querem continuar a usufruir deste espaço maravilhoso que é o rio, se gostam de Setúbal, se gostam de Natureza, se querem um mundo melhor:
Apareçam na manifestação contra as dragas e tragam a vossa garra - dia 28 de Setembro de 2019.