Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Meninas depois mulheres

se lá chegarem...

19
Ago21

meninas.jpg

Fotografia © Boushra Almutawakel

Hoje é dia mundial da fotografia. 

Eu não me interessa que haja mais moderação sobre o que é ou não é o Direito das mulheres. O que me interessa são os Direitos das  mulheres  por inteiro. Porque já chega de sermos tratadas como seres de segunda.  Não é uma questão de feminismo, ou de outro qualquer rótulo que lhe queiram chamar. É sobretudo uma questão de justiça.

Apesar de sermos geradoras de vida, e portanto também propagadoras da espécie, temos sido ao longo dos tempos relegadas para segundo plano, muitas vezes pelas razões mais estapafúrdias, hoje vemos pelas imagens que nos chegam através de vários meios de comunicação social a selvajaria do que é viver como mulher em determinadas sociedades, quer por crenças religiosas, de poder, ou de pura ignorância. E o mundo assiste ano após ano impávido e sereno, um mundo com muitos homens no poder, sem projectos que levem ao fim destas atrocidades, sem diplomacia nesse sentido, sabendo porém que nascer-se mulher é meio caminho para uma vida de pobreza, violência e  injustiça social. 

 

Uma lição de Direito

07
Mai18

 

 

Uma manhã, quando nosso novo professor de "Introdução ao Direito" entrou na sala, a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Como te chamas?
- Chamo-me Juan, senhor.
- Saia de minha aula e não quero que voltes nunca mais! - gritou o desagradável professor.

Juan estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala. Todos estávamos assustados e indignados, porém ninguém falou nada.

- Agora sim! - e perguntou o professor - para que servem as leis?...
Seguíamos assustados, porém pouco a pouco começamos a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!

 

 


- Para que as pessoas erradas paguem por seus actos.
- Não!!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso... para que haja justiça.

 

 

 

E agora, para que serve a justiça?
Todos começávamos a ficar incomodados pela atitude tão grosseira.
Porém, seguíamos respondendo:
- Para salva guardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor.
- Para diferençar o certo do errado... Para premiar a quem faz o bem...

 

 

 


- Ok, não está mal, porém... respondam a esta pergunta: - agi correctamente ao expulsar Juan da sala de aula?...
Todos ficamos calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não!! - respondemos todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!!!
- E por que ninguém fez nada a respeito?
Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para pratica-las?
- Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos.
Não voltem a ficar calados, nunca mais!
- Vá buscar o Juan - disse, olhando-me fixamente.
Naquele dia recebi a lição mais prática no meu curso de Direito.
Quando não defendemos nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.

 

 

As ilustrações são de Anthony Browne, quanto ao texto desconheço o autor, mas adorei ler esta lição de vida, por isso deixo-a aqui para que fique guardada nesta folha digital como um alerta: a dignidade não se negocia. 

 

 

Alice Alfazema

 

 

 

 

 

 

Sentido da crítica

05
Fev14

O direito a ser humilhado parece-me um direito tão digno como o direito da vítima a dizer não. É um direito como outro qualquer. Existem bons países onde esse direito é comum e aceite, na Coreia do Norte até têm cãezinhos que dão dentadinhas de humilhação. Qual o problema? Nalguns países muçulmanos as mulheres têm o direito a ver o mundo por um bocado de pano. E daí? Não se preocupam com a depilação e outras coisas que tais. Há sempre o direito que nunca se endireita, como o jurídico, mas isso já é outra estória. Agora estou no meu direito de não vos maçar mais. Adeus. 

 

Alice Alfazema