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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Dia do Pai

2022

19
Mar22

 

tulipas.jpg  

Fotografia Andrzej Berlowski

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo
moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

odyn vypadok,
miy batʹko pofarbuvav vesʹ budynok
pomaranchevyy fon.
Dovho
my zhyvemo v budynku,
yak vin sam skazav,
postiyno svitaye.

 

один випадок,
мій батько пофарбував весь будинок
помаранчевий фон.
Довго
ми живемо в будинку,
як він сам сказав,
постійно світає.

 

Poema de Adélia Prado

 

 

19

19
Mar21

20200829_094329.jpg

 

 
Sabes, pai,
lembro-me dos teus pés
muito grandes e das calças
que eu não conseguia acompanhar
com o olhar até à cintura.
O teu rosto que não sorria
estava como que desenhado
no tecto escuro
por onde voavam as asas
da minha inquietação.
 
Nunca os teus olhos sorriram nos
meus nem a minha transparência
perturbou o teu sono.
 
Para não comunicares
ergueste uma parede de medos
que ainda hoje subo e desço quando
procuro saber onde me perdeste.
 
As músicas, as cores,
as estações e as danças
habitam a minha cabeça,
os meus pés e a minha boca.
 
Sabes, o silêncio que impuseste gritou,
a crueza do nada floriu,
a inexistência dos meus sonhos
só era real para ti.
 
Rasguei os panos ensanguentados
da solidão e com eles costurei
roupas, maresias, amores, palavras.
Ainda continuo a amar os panos.
 
 
Poema de Lília Tavares