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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Diário doa meus pensamentos (54)

13
Mai20

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Ilustração Margarita Kukhtina

 

A escola está uma chatice, não há barulho, nem gritos, nem gente a queixar-se a toda a hora, nem segredos de boca à orelha. Por falar nisso doi-me as orelhas, por causa do elástico da máscara, não consigo olhar-me ao espelho sem que me dê vontade de rir, a minha imagem faz-me lembrar a Maga Patalógica. E quando olho para as outras colegas? Não consigo resistir a uma gargalha, no entanto tenho feito um enorme esforço para me conter. Tenho gostado de alguns modelitos feitos em pano, e de observar que quem usa tem em atenção se o padrão da máscara condiz com a indumentária do dia, apesar de elas jurarem a pés juntos que foi mera coincidência. Também existe inovação na feitura de desinfectante para as mãos, uma colega fez com fragrância de aloe vera, mas o marido foi assar um chouriço e utilizou o que tinha aloe vera, é dois em um, assa o chouriço e perfuma a casa, mas parece que não assa tão bem, é a opinião do marido dela, após saber que utilizou o álcool errado. Para além disto, existe ainda algo novo, em que vou ter de me especializar rapidamente - ralhar com os pais que não trazem máscara - o plano é ter várias frases de ralhete escondido, com crítica motivadora, de forma a criar um impulso positivo na memória do adulto. 

 

 

Diário dos meus pensamentos (53)

Açaime

11
Mai20

Hoje compreendi profundamente o meu cão, e a sua fúria em relação ao açaime, reconheço em mim que aquilo pode ser aflitivo, mas depois de um certo tempo habituamo-nos e após muitas horas com a máscara posta na cara, chega finalmente a altura de a tirar e aí fiquei com aquela sensação  que deixei de ter focinho, ou melhor senti a falta dele.  

Diário dos meus pensamentos (52)

Ressignificar

10
Mai20

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Ilustração Aimee Sicuro

 

 

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas,

que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.

Perdoai! Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

 

 

Poema de Manoel de Barros