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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

A nossa aldeia global

17
Out20

“Numa primeira fase, aceitou-se e entendeu-se que doenças e fatores de risco cardiovasculares, como é o caso da hipertensão, possam ter passado para segundo plano em termos de preocupação e de atenção dispensadas por parte dos serviços de saúde e dos clínicos, de uma forma geral” “O que já não se compreende é que, passados estes meses todos, se continue a consumir a 100% todo o tempo e todas as energias em torno da pandemia em detrimento de uma doença que, diretamente ou indiretamente, é a principal causa de morte em Portugal

 

Manuel de Carvalho Rodrigues, médico no Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã, e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH).

 

Questiono-me todos os dias: e se fossem contabilizados e mostrados todos os dias a quantidade de gente que morre de fome no mundo? Ficaríamos alarmados? Mudaríamos alguma coisa? Teríamos estratégias e fundos monetários para isso? E a gente que morre todos os dias de doenças oncológicas? E as pessoas que sofrem de doenças incapacitantes devido aos factores de risco que sofrem no trabalho? A gripe? Renais? Poluição? Subnutrição? Guerras? Desigualdades sociais? Refugiados? Desalojados das suas terras? Regimes de opressão? Mulheres e crianças vítimas de violência? Solidão? Doenças mentais? E tantas outras merdas que há por aí.  

O mal é esta doença? Ou é a sociedade que está alheia aos males paralelos à doença? Será antes a falta de sistemas de saúde capazes e universais? A proliferação de "lares" que se resumem a salas com cadeiras de espera da morte? A subnutrição e desidratação dos velhos nesses lares?  O amontoado de crianças por sala de aula? As deficientes condições de higiene, segurança e saúde no trabalho? A falta de compreensão e respeito pelo mundo natural? E todo o exacerbado envolvimento em volta do lucro e do poder? 

 

Os cadáveres não pagam impostos. 

 

Moçambique

20
Mar19

 

Ilustração Erin Robinson

 

 

Não sei como conseguimos ser felizes a ver a miséria dos outros. Não sei como dormimos tranquilos enquanto outros não têm casa, nem cama nem nada. Não sei como nos sentamos à mesa e degustamos a comida muitas vezes com desdém, quando outros dormem de barriga vazia, sem choros, sem nada. Não sei como olhamos para o nosso guarda-roupa cheio e dizemos que não temos nada para vestir, quando outros têm apenas a roupa que trazem no corpo. Não sei porque choramos deprimidos porque não possuímos a melhor tecnologia e a melhor colecção de amigos na rede social do momento, enquando outros nem sabem o que isso é e apenas querem paz. Não sei que raio de gente somos nós sem consciência do nosso lugar e do lugar do outro. Somos uma gente de merda.