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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Crime ambiental no Rio Sado

Janeiro 2021

22
Jan21

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Faltam-me as palavras para descrever o que está a acontecer no Rio Sado, uma torrente de lama cobre agora tudo o que encontra no seu caminho, é a morte a assolar tudo o que lhe aparece pela frente. São lamas de dragados, que soterram o sapal, e a zona envolvente, que tornam o Estuário do Sado num lodaçal putrefacto, matando as espécies que dele dependem, empobrecendo de uma maneira feroz a biodiversidade já de si frágil. 

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Devastando a produção ostreícola adjacente, a recolha de marisco e a desova do choco. Ali, mesmo ali, começa o território delimitado pela convenção internacional Ramsar, que visa proteger zonas de habitat de aves aquáticas. Estas lamas ameaçam invadir os lençóis aquíferos que alimentam a vegetação da zona e colocar em causa todo este habitat. 

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Tudo isto demonstra um desrespeito assustador pela biodiversidade, com a conivência de quem deveria proteger um património que é comum a todos nós. À vista de todos, manipula-se a inversão das prioridades, deixando para o futuro, que pode estar demasiado próximo, a criação de soluções alternativas à já mais que ultrapassada "revolução industrial", onde tudo se destruía a preceito da bandeira erguida como economia e progresso. 

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Mais do que confinados em casa, estamos cada vez mais confinados de pensamento, sem ação nem dever cívico, que a troco de uns quantos miúdos vendemos a eito a nossa sobrevivência. Pergunto-me: O que têm agora para dizer os especialistas que fizeram os estudos de impacto ambiental e os que aprovaram estes planos de inovação e empreendedorismo? Chegam denuncias de lamas que se alastram até Alcácer do Sal, a cerca de 25 km de distância da praia da Mitrena, local onde começou o derrame de lodo.  

É desolador olharmos para estas imagens, mas ainda mais é o silêncio envolto em tudo isto. Envergonha-me ver esta desresponsabilização por parte de quem nos devia dar o exemplo.  

 

As fotografias são de:  SOS Sado

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A Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, S.A. (APSS) é dona do Sado e dos seus recursos Naturais?

01
Dez19

O navio Libertas continua o seu périplo pela barra e estuário do Sado, fazendo as medições finais necessárias à intervenção das dragas.
Depois de sondar todo o canal de navegação, esteve nas últimas horas a cobrir por completo o local a que a APSS e a DGRM deram o nome de "polígono de TUPEM nº 30/01/2019" e que entendem ser o ideal para depositar 2,6 milhões de metros cúbicos de sedimento onde as análises do IPMA identificam contaminações de classe 1, 2 e 3 de componentes como o mercúrio, cádmio ou hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.

 

Para compor o cenário de terror, estas análises do IPMA são apontadas por diferentes pareceres técnicos como sendo insuficientes e menosprezadoras do grau de contaminação e risco envolvidos, para além de não terem em conta os potenciais riscos da mistura destes componentes pela acção de dragagem.

 

Quem vive o Sado, e sobretudo quem vive do Sado, conhece esta zona por outro nome: a restinga de Tróia. Sabe que é ali que nasce muita da vida que torna o estuário do Sado tão especial. E também sabe que - como previsto no próprio Estudo de Impacte Ambiental - a deposição de dragados poderá causar impactes irreversíveis na regeneração das espécies que fazem da restinga a sua maternidade e que garantem a riqueza e qualidade do pescado da região, famoso além-fronteiras.

 

É esta irreversibilidade que tem causado tanta polémica, e motivou uma fortíssima oposição à deposição por parte da comunidade piscatória de Setúbal.
A esta revolta, a APSS respondeu à saciedade que não faria qualquer utilização da licença obtida “até que exista uma solução de consenso com os pescadores”, num gesto pretensamente magnânimo que só poderia nascer da mente tortuosa de quem se julga dono dos recursos naturais e da biodiversidade da região, e que deles pode servir-se como moeda de troca para avanço dos seus interesses.

 

SOS Sado

 

 

 

 

A Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, S.A. (APSS) é uma sociedade anónima de capitais públicos, que tem por objeto a administração dos portos de Setúbal e Sesimbra, visando a sua exploração económica, conservação e desenvolvimento e abrangendo o exercício das competências e prerrogativas de autoridade portuária. Neste sentido, assegura o exercício das competências necessárias ao regular funcionamento dos portos nos seus múltiplos aspetos de ordem económica, financeira e patrimonial, de gestão de efetivos e de exploração portuária e ainda as atividades associadas. 

A APSS tem a missão de assegurar uma administração portuária próxima, intensa em termos relacionais, de todos os stakeholders.