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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Mar da nossa Terra

Mar da Minha Terra - Almada Atlântida

30
Jan21

No outro dia falei aqui daquilo que está a acontecer no Rio Sado, entretanto, não me lembro de ver noticiado nos órgãos de comunicação social esse crime ambiental, pelo menos na forma como deveria ter sido divulgado. É bom que nos lembremos mais vezes que tudo isto tem um preço demasiado elevado para todos nós, e recordemos também que não vivemos num mundo virtual higienizado onde tudo tem solução.  É uma brutalidade termos de perder estes museus vivos em prol dos poderes económicos instalados. De repente lembrei-me de vacinas. 

 

 

Crime ambiental no Rio Sado

Janeiro 2021

22
Jan21

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Faltam-me as palavras para descrever o que está a acontecer no Rio Sado, uma torrente de lama cobre agora tudo o que encontra no seu caminho, é a morte a assolar tudo o que lhe aparece pela frente. São lamas de dragados, que soterram o sapal, e a zona envolvente, que tornam o Estuário do Sado num lodaçal putrefacto, matando as espécies que dele dependem, empobrecendo de uma maneira feroz a biodiversidade já de si frágil. 

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Devastando a produção ostreícola adjacente, a recolha de marisco e a desova do choco. Ali, mesmo ali, começa o território delimitado pela convenção internacional Ramsar, que visa proteger zonas de habitat de aves aquáticas. Estas lamas ameaçam invadir os lençóis aquíferos que alimentam a vegetação da zona e colocar em causa todo este habitat. 

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Tudo isto demonstra um desrespeito assustador pela biodiversidade, com a conivência de quem deveria proteger um património que é comum a todos nós. À vista de todos, manipula-se a inversão das prioridades, deixando para o futuro, que pode estar demasiado próximo, a criação de soluções alternativas à já mais que ultrapassada "revolução industrial", onde tudo se destruía a preceito da bandeira erguida como economia e progresso. 

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Mais do que confinados em casa, estamos cada vez mais confinados de pensamento, sem ação nem dever cívico, que a troco de uns quantos miúdos vendemos a eito a nossa sobrevivência. Pergunto-me: O que têm agora para dizer os especialistas que fizeram os estudos de impacto ambiental e os que aprovaram estes planos de inovação e empreendedorismo? Chegam denuncias de lamas que se alastram até Alcácer do Sal, a cerca de 25 km de distância da praia da Mitrena, local onde começou o derrame de lodo.  

É desolador olharmos para estas imagens, mas ainda mais é o silêncio envolto em tudo isto. Envergonha-me ver esta desresponsabilização por parte de quem nos devia dar o exemplo.  

 

As fotografias são de:  SOS Sado

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Um Natal no Rio

15
Dez19

Era uma vez um Rio, que corria de Sul para Norte, passava por serras, montes e vales, e vinha desaguar a um estuário que tinha como fim um Oceano imenso. Esse rio era manso e azul, "em certos dias tinha mesmo a cor do céu", as suas margens eram gémeas e nele viviam muitos animais. Tinha uma das pradarias marinhas mais importantes do país, onde nasciam as mais variadas espécies, e que serviam também para alimentar e proteger os golfinhos que por lá viviam, as pessoas que por ali viviam faziam desse espaço o seu modo de vida, e no mercado daquela cidade havia muito bom peixe, faziam até festivais alusivos à qualidade desse peixe, por diversas vezes a imprensa falou disso e as pessoas vinham de muito longe para comer peixe nessa cidade. 

No entanto um dia o céu escureceu e o rio ficou da cor do chumbo, as suas lamas foram revolvidas e foi aberta uma grande fenda no leito do rio, era um buraco imenso por onde podiam entrar grandes navios, uma verdadeira auto-estrada marinha, para abrirem essa fenda levou-se muitos dias, seis meses, dia e noite a draga retirava areia e mais areia e tudo o que viesse atrás, o rio ficou castanho, as pradarias morreram porque não tinham oxigénio, devido às águas turvas e contaminadas pelos depósitos que tinham ficado durante décadas no leito do rio, os golfinhos adoeceram, ninguém sabe se vão sobreviver, são cerca de duas dezenas apenas.

 

No Verão aquela cidade era muito visitada, muitos famosos iam lá comer e passear naquele rio, mas nenhum deles se importou com aquela matança, nem mesmo sabendo que as areias retiradas do rio iam ser depositadas em frente às praias da zona, naquele tempo o orçamento de Estado contemplava medidas contra as alterações climáticas e eram punidas as pessoas que maltratavam gatos e cães, algumas pessoas manifestaram-se contra esta grande maldade que estavam a fazer ao Rio, que era a casa de muita gente com escama e sem escama, houve uma petição contra esta destruição do nosso património natural, que atingiu o número suficiente para ser discutida em Assembleia da República, mas ninguém ligou patavina, porque o dinheiro é o mais importante, principalmente quando é muito. 

 

A grande árvore metálica e reluzente continua a brilhar na avenida principal da cidade, é Natal, a draga está a postos nas águas calmas do Sado, as pessoas fazem compras apressadas, e agasalham-se por causa do frio, vão para casa, algumas acendem lareiras, sentam-se confortavelmente à sua mesa, na sua casa, no seu espaço, no sítio que mais preservam. Entretanto a draga continua a destruir a casa dos outros. Mas que importa isso é Natal!

 

Feliz Natal!