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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Caldeirada de pata-roxa

30
Jul20

 

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Ponho o tacho grande em lume brando e rego com azeite o seu fundo. Lá dentro coloco uma folha de louro, entretanto vou cortando em rodelas finas uma cebola grande, às vezes ponho duas, atiro-as para dentro do tacho, enquanto fico a ver os salpicos do azeite que se junta à cebola, começa o processo de refogar. Vou então cortar o pimento verde em tiras finas, enquanto o limpo de sementes a cebola torna-se loura, jogo lá para dentro o pimento. O cheiro intensifica-se. Passo aos tomates, uns quatro pelo menos, bem maduros, para dar cor ao prato e sabor ao mar. Lavo-os e tiro-lhes a rama verde, não os descasco, corto-os em rodelas não muito finas, que vou colocando por cima da cebola e do pimento, tempero com sal e junto-lhes uns dentes de alho em fatias fininhas, talvez quatro, pimenta moída na hora. O lume brando vai fazendo das suas e, mistura devagar os sabores e as cores. Vou buscar as batatas, são olho de perdiz, de casca fina, descasco-as e corto-as em rodelas de forma a cozinharem rapidamente. Coloco-as por cima dos tomates, ajeito-as para que caiba também o peixe. Escolhi pata-roxa,  retiro  o peixe da água, que serviu para retirar o excesso de sangue, e faço a última camada dentro do tacho, ajeito os fígados do peixe, iguaria única que fica maravilhosa em cima de uma fatia de pão cozido a lenha. Rectifico os temperos e tapo o tacho. Olho para o relógio e aguardo que o milagre aconteça. Lá dentro, devagarinho, os sabores do Mar se misturam com os da Terra. Antes de servir tenho de lhes dar um abanão.

 

 

Mistérios da minha cozinha

02
Mai17

Eu tenho uns pratos de vidro... muito antigos, vintage, são de pirex, uns são verde-escuro, outros castanhos, nem sei quantos me restam das duas dúzias que tinha. São muito utilizados pela malta cá da casa. Quando a mesa está posta para a refeição nunca há pratos da mesma cor em cima da mesa, não tenho coragem de os partir, nem de os deitar fora, já tentei, mas depois lembro-me de quem mos deu e passa-me depressa a vontade. O tempo acabará com eles e comigo. Entretanto, tenho um serviço de loiça completo, daqueles de enxoval, esse só utilizo em dias de grande festa. Há um ano ou dois, ou mais, estou cada vez mais esquecida, comprei uma dúzia de pratos de loiça de sopa, uma dúzia de pratos rasos e uma dúzia de taças, tudo igual, para quando tivesse visitas ter uma mesa com deve de ser. Das taças restam três, eu não parti nenhuma, e ninguém sabe quem as partiu. No sábado vieram cá a casa uns amigos, éramos oito ao todo, quando começamos a pôr a mesa, só havia sete pratos iguais, daqueles doze que comprei à pouco tempo, depois achei mais um dentro da máquina de lavar-loiça, ainda procurei, mas no armário não encontrei mais nada. Ora se eram doze e tenho oito, e eu não parti nem um, e ninguém partiu nenhum, aonde param os outros quatro? Aonde meu Deus? Por onde tenho eu andado que não dei conta da fuga dos quatro pratos? Os de sopa? Esses ainda não os contei.

 

 

 

Alice Alfazema