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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Parece que o maior problema de Portugal são os portugueses

30
Mai21

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Ilustração  Peter Gut

Há muito, muito tempo, na era do covid, num país chamado Portugal, onde viviam cerca de dez milhões de habitantes, as pessoas foram obrigadas por lei a usar máscara enquanto andavam nas ruas das cidades e das vilas, era assim que estava estipulada a melhor maneira de conter a disseminação do vírus, quem não cumprisse poderia incorrer numa multa valente, mas depois vieram os ingleses  e os empregados de mesa viveram felizes para sempre. 

Estou de viagem

19
Fev21

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Ilustração Andrea Calisi

Pode parecer repetitivo, e é. É como se andássemos naquela roda de rato, andando sem parar, sempre no mesmo sítio. E é isto que perdura há cerca de um ano, enquanto arrastamos connosco a mala cheia de dúvidas, medos, projectos. E o caminho continua, estamos a vê-lo, uns dias estreito, outros largo, mas há medida que o tempo passa, a mala vai estando mais pesada, e não podemos parar, porque o tempo não pára, continuamos, como numa maratona, doendo, doendo, já sem dar por isso, apenas seguimos.

Tenho feito, grande parte desta viagem por aqui, foram muitas horas aqui a partilhar as minhas emoções, confesso que isso me fez muito bem, deu leveza à minha mala.  

 

 

Bellissimo!

24
Nov20

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Hoje na hora do almoço fui beber um café, pedi um bolo miniatura para dar pompa à circunstância. Quando recebi o pedido fiquei tão contente com o efeito que pensei automaticamente, tenho de tirar uma fotografia para lhes mostrar. E quem são os lhes? São vocês que passam por aqui todos os dias, que me deixam comentários, que me acompanharam durante este mês de Novembro, que foi para mim um mês duro e de clausura forçada.  Mês em que fiz parte dos números da listagem diária da DGS. Durante duas semanas tomei de assalto a sala, fiz do sofá a minha cama e o meu local preferido de passagem das horas. Tricotei uma camisola para espairecer os pensamentos. Os dias foram muito compridos, acompanhados de um sentimento de inutilidade permanente, agora parecem-me longínquos esses dias, como se o tempo tivesse tomado outra proporção. Eu que tanto prezo a minha Liberdade, vi-me privada desse bem tão precioso, diremos que é por um bem maior e que não tive grandes sintomas que me privassem de saúde física, estou grata por isso, mas esta doença para além das maleitas físicas faz-nos sentir o quanto somos insignificantes ou indispensáveis para aqueles que nos rodeiam. Todos os dias tive mensagens de ânimo, todos os dias tive pequeno- almoço na cama, almoços caprichados, jantares variados, café adoçado, bolinho, no entanto não pude compartilhar  essa magia da troca de afectos. Eu que gosto de estar sozinha, de ter tempo para pensar e de fazer o que me apetece, e que há meses estou constantemente acompanhada, senti aquilo que julgo ser o verdadeiro sentimento de solidão, não porque não tivesse ninguém, mas porque me sentia abandonada por mim, com um sentimento de nulidade agarrada à pele. 

Vai um cafezinho? Pago eu. 

 

Fiquem bem.