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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Sem papas na língua

23
Fev19

 

Ilustração  Cristian Blanxer

 

Durante anos, na minha infância fui obrigada a comer papas de aveia. Aveia fervida com leite, açúcar e casca de limão, no final um gema de ovo. As crostas da aveia a pegar-se à minha língua e a papa a ficar dura e fria. Odeio papas. Come Alicinha, isso faz-te bem.  A colher a aproximar-se da boca e a sentir o vómito a vir. Livrei-me disso. Daquela coisa pegajosa a pairar na boca. Agora são as fotos de comida saudável, é por todo o lado, papas de aveia, papas de aveia...e o vómito a vir. É o pesadelo outra vez, come Alicinha que isso faz-te bem, andas tão amarela.

 

Quantos quilos de açúcar comem os miúdos no regresso às aulas?

18
Set18

 

Ilustração Anna Tillet

 

 

É vê-los passarem com sacos cheios de gomas,

parecem bandos de açúcar dependentes à solta, 

os putos,

os putos,

 

Os pais não sabem, ou sabem,

ou então não querem saber,

cada saco custa uma nota preta,

e a dona da loja já tem um mercedes,

 

mas não faz mal,

não faz mal,

 

a comida da escola é que sabe mal,

tem legumes e peixe com espinhas,

não é docinha, 

vamos antes comprar uma baguetezinha.

 

Quem se importa? Quem se importa?

Só a senhora da loja!