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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Virgolinho o ET cientista social

Capitulo II

26
Nov22

caracol.jpg Fotografia Katarzyna Załużna

Virgolinho desviou o olhar daquela imagem fantástica, conhecia a maciez das penas dos pássaros, de onde vinha as aves eram adoradas como símbolos de liberdade e de sonho, pois tinham o poder mágico de atravessarem os buracos negros entre universos e transformarem as cores das suas penas através da energia quântica, de uma só vez mudavam de tamanho e de cor, era quase impossível haver uma catalogação de cada espécie, visto andarem em constante mutação. Era estranho estar a comparar os dois mundos, principalmente porque os que viviam ali em baixo tinham a noção de viverem sozinhos no vasto universo. Ligou o comando principal da nave, este podia ser comparado a um grande computador terrestre, era dali que retirava a informação que necessitava para se manter actualizado sobre cada mundo que visitava. Naquele comando era possível fazer qualquer tipo de pesquisa, o cruzamento de dados que ali tinha sido introduzido permitia a Virgolinho conhecer e ter a noção aproximada de como os terrestres se comunicavam através da escrita. Verificou que havia agora um outro mundo paralelo à realidade, a que os terrestres chamavam de redes sociais, Virgolinho ligou-se às redes e começou a ler o que eles chamavam de comentários, depreendia que aquilo seria uma forma de expressão, no entanto o que o surpreendeu é que havia  nesses ditos comentários uma forma de agressão verbal jamais expressada com essa dimensão no chamado mundo real, ficou também curioso em perceber o porquê  desse tipo de comportamento ser aceite em sociedade como liberdade de expressão. Anotou alguns desses comentários como fonte de pesquisa, mais tarde iria tratar de documentá-los, depois pensou que teria de reformular toda a sua pesquisa já antes feita na Terra. 

 

VER CAPITULO ANTERIOR:

Capitulo I

Toca

avaria nos serviços do Facebook

05
Out21

toca.jpg

Ilustração  Elin Manon

 

Pensei que o dia de ontem fosse mais agitado, em não havendo serviços do Facebook julguei que as pessoas adeptas de comentários francos viessem para a janela gritar os seus comentários de motivação aos outros que desconhecem, afinal nada aconteceu, que desilusão. 

 

 

 

Assédio

07
Mai21

A Sofia Arruda declarou publicamente que foi assediada no seu local de trabalho, a partir daí várias mulheres deram a cara e assumiram que também já tinham sido assediadas no local de trabalho, sendo que isto por si só já é de uma violência emocional para as vitimas, podemos imaginar então a dificuldade em ultrapassar este sofrimento psicológico, o medo, e até a culpa que a própria vitima carrega. 

Toda esta situação, dirão alguns, que acontece e vai acontecer sempre, será verdade certamente, mas o que me surpreende, são os especialistas comentadores, vejo as caixas electrónicas cheias de comentários a referirem que "isto agora é moda", "porque não dissestes antes", "se fosse um gajo giro era engate", e por aí fora...existe assim um mar de gente que agride moralmente estas mulheres (neste caso), a isto chama-se assédio moral, achincalha-se assim sem se ter conhecimento de nada, gratuitamente, com uma fúria de prazer sórdido sobre o outro. Numa arena tecnológica onde os gritos mórbidos e estridentes são teclados sem consequências de maior.

Tal como noutras formas de violência, a vítima é vista muitas vezes como culpada, no entanto, as vítimas são quem sofreu o maior dano ou prejuízo. E teclar para achincalhar é mais uma de entre outras formas de violência, nada mais que isso.  

 

Diário dos meus pensamentos (47)

05
Mai20

ler.jpg

Ilustração  Dani Torrent

 

Cada pessoa tem o seu mapa imaginário, os nossos pensamentos são formas de comunicarmos, e através deles passamos sensações aos outros, pode ser um olhar, um sorriso, o tom da nossa voz,  as nossas atitudes corporais. Os nossos pensamentos afectam os nossos músculos, se pensarmos em algo bom podemos nos descontrair, se pensarmos em algo mau é possível que tenhamos tensão e irritabilidade. Se pensarmos constantemente no mesmo que tamanho terá o nosso mapa imaginário? E se nos abrirmos a vários outros pensamentos que nos levem a ter outras atitudes, teremos a possibilidade de fazer crescer esse mapa? O mapa não é um território físico, mas é um instrumento para lá chegar. Ao escrevermos estamos também a passar o nosso mapa mental para o seu estado físico, e aquilo que escrevemos revela as nossas atitudes, não na forma de um olhar, ou sorriso, mas nele se incluem a alegria, a tristeza, a frustração, a raiva, a gratidão, o apreço, de entre outras, assim, as respostas que damos de forma escrita devem ser pensadas da mesma maneira que da forma falada, a escrita não tem um som, até alguém lê-la em voz alta, não é apenas nas virgulas e nos pontos que pomos a intenção, mas é em todo o cuidado que devemos ter em escolher as palavras e em saber o seu significado, escrevendo de forma clara, descomplicada para que a mensagem tenha conexão positiva.