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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Já apreciaste hoje uma coisa simples?

27
Jul16

 Fotografia de Herman Damar, retirada daqui.

 

A rede é atirada, é uma renda luminosa. O miúdo, atento, dá larga aos músculos e faz voar aquela rede de cores, que cai no rio e amarra o jantar, que afaga o estômago e dá alento à alma. 

 

Uma coisa simples, uma vida longe daqui, uma coisa sem importância para quem vê de longe, Uma fotografia linda, um momento mágico. Uma coisa importante para ele.

 

 

Alice Alfazema

O poder da felicidade vem das coisas sem poder?

28
Fev14

 

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

 

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

 

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?

 

Paulo Leminski

 

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Alice Alfazema