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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Conversas da escola - O poder do limão

16
Out19

Vamos imaginar pela terceira vez: um miúdo franzino, do sexto ano, muito bem penteado com gel e risco ao lado, óculos com aros azuis, despachado a falar, sabemos que ele esqueceu-se hoje do telemóvel e está um pouco perdido porque está habituado a telefonar à mãe a toda a hora.

 

- Dói-me a barriga, quero outro chá, mas esse de limão que vocês têm aqui não é lá muito bom, não é bem chá, lá na minha outra escola faziam chá, mesmo chá. 

- Como é que dizes uma coisa dessas?! Este chá é milagroso, tem muita vitamina C, é preciso é saber qual a parte certa do limão para cada doença, se for para a dor de cabeça é de um lado, coisas de amor do outro lado, dores de barriga mais ao centro...ó Albertina faz lá um chá para a dor de barriga, mas cuidado tem que ser o lado certo do limão.

 

E por hoje é tudo. Não se esqueçam de viver no lado certo da vida ou do limão se assim preferirem. 

Conversas da escola - Amor incondicional

08
Set18

 

IIlustração Bill Mayer

 

 

 

Ontem recebemos um telefonema que nos deixou muito felizes, depois de ouvir falar mal constantemente sobre o nosso trabalho é bom saber que existem caminhos que acabam em bem.

 

- ...eu sou a avó do...e estou a telefonar para vos agradecer tudo o que fizeram pelo meu neto...ele agora está bem, já deixou as más companhias, está a trabalhar e gostam muito dele lá no trabalho, é para vos agradecer...

 

Ficamos arrepiadas, as notícias boas raramente nos chegam aos ouvidos, são muitos miúdos, mas lembro-me daquela avó, cujo o neto vinha de outra escola, porque ela queria que ele se endireitasse, lembro-me que telefonava para a escola quase todos os dias, senão mais que uma vez ao dia - ele já era um adolescente grandote - e perguntava se ele já tinha entrado, porque ele não lhe atendia o telefone e ela queria confirmar, e então eu recebia ordens para ir até à sala disfarçadamente ver se ele estava na aula, dizíamos então à senhora que sim que estava na sala de aula e ela ficava aliviada. 

 

Ficamos tão-encantadas por este agradecimento tão genuíno e despretensioso. E eu fico a pensar naquela avó guerreira que nunca desistiu do neto, que sempre insistiu e procurou alternativas àquilo que se estava a passar. Criou um objectivo e concretizou-o, pediu e muitas vezes implorou, mas conseguiu e nunca se acobardou, nem teve vergonha, foi à luta e muitas vezes em sofrimento, porque estes males fazem-nos doer a alma e derrubam-nos de uma forma permanente. Um grande bem haja para esta Senhora.