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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

"cega, secreta e doce como estrelas"

Floresta

26
Mai21

preto e branco.jpg

Entre o terror e a noite caminhei
Não em redor das coisas mas subindo
Através do calor das suas veias
Não em redor das coisas mas morrendo
Transfigurada em tudo quanto amei.
 
Entre o luar e a sombra caminhei:
Era ali a minha alma, cada flor
- cega, secreta e doce como estrelas -
Quando a tocava nela me tornei.
 
E as árvores abriram os seus ramos
Os seus ramos enormes e convexos
E no estranho brilhar dos seus reflexos
Oscilavam sinais, quebrados ecos
Que no silêncio fantástico beijei.
 
 
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, Floresta
 

Uma caminhada por dia, nem sabe o bem que lhe fazia

03
Fev21

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Saí de casa ao escurecer, para esticar as pernas e desanuviar a mente. Não levo música, às vezes nem ando depressa, paro quando me apetece. 

O céu estava convidativo à contemplação, os pássaros davam as últimas chalreadas do dia, um mocho ou uma coruja começou a piar ao de leve, as árvores ficaram com sombras fantasmagóricas. As casas pareciam mais sóbrias à medida que aumentavam as zonas escuras. O cinzento tomava conta de tudo, e em todos os tons. 

Vejo que as giestas continuam lindas, com cachos de flores delicadas, deixando um perfume inebriante no ar, o exotismo da caminhada é desvendado a cada passo, numa calçada portuguesa em direcção à noite. Ao fundo o Castelo iluminado, como se fosse um farol, fico a vê-lo, encantada com aquela luminosidade dourada.