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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Estratificação social

às camadas

27
Jun20

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1.
ama os teus sonhos
como o teu próximo

ou como os sonhos
do teu próximo

mas se o teu próximo
não tiver sonhos

convém mandar o teu próximo
para muito longe

donde não te possa
contaminar

 

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2.
não atravesses a rua
(ou a vida tanto faz)
com palavras ameaçadas de medo

leva em vez delas
um límpido silêncio onde
possas nascer para o dia claro
que se anuncia
nas janelas do quarto

não regresses à rua
(ou à vida tanto faz)
com gestos grisalhos de medo

leva em vez deles
um derradeiro aceno se
for caso disso
entre as dobras do sono
de quem ao. longe está
a ser feliz doutra maneira

e se no teu olhar houver um rio
a apressar a partida
não hesites

mas por favor
não atravesses a rua
(ou a vida tanto faz)
com madrugadas contagiadas de medo

 

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Poema Alice Vieira, in O lado de Dentro, do Lado de Dentro.

 

 

Diário dos meus pensamentos (46)

04
Mai20

Como hoje foi um dia de chazada, deixo aqui uns bolinhos para acompanhar. Também há café. Os licores são com a . Sirvam-se à vontade. São para todos os que por aqui passam. Obrigada por estarem desse lado.  

 

 

Ah, como as coisas quotidianas roçam mistérios por nós! Como à superfície, que a luz toca, desta vida complexa de humana, a Hora, sorriso incerto, sobe aos lábios do Mistério! Que moderno que tudo isto soa! E, no fundo tão antigo, tão oculto, tão tendo outro sentido que aquele que luze em tudo isto!

 

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego