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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Cinquentas - Eu

31
Jul19

cinquentas.jpg

 

Ilustração  Francesca Escobar

 

Cinquenta são: 5x10. São cinco anos em cada dedo das mãos. Cinquenta Verões, cinquenta Invernos. Cinquenta brindes.

 

A Isabel, lançou o desafio de falar do que é ter cinquenta anos, e eis-me aqui reflectindo sobre o assunto.

O que senti ao fazer cinquenta anos de vida? Senti que tinha ultrapassado uma meta, ao mesmo tempo um alívio mental de me livrar de bloqueios que a sociedade nos impõe. Mesmo que o corpo fraqueje eu não me importo, estou a aprender a viver com calma, a me dar mais espaço e a mimar-me. Olho o tempo de uma outra forma, é um tempo de como quem anda numa montanha-russa, uma descida vertiginosa, da qual não podes fugir, que te arrepia e te mete medo, mas que logo passa, e até é divertido lidarmos com as situações das quais ouvíamos as "pessoas de idade" falar quando éramos jovens. São as dores, os olhos que falham, os ouvidos, os cabelos crespos, as rugas e a secura, dizem que tudo fica seco. É mentira. Talvez isso aconteça a quem não alimente a mente. É um outro tempo, com outro conhecimento. 

 

Não me afectam as rugas nem os cabelos brancos, pinto o cabelo até me apetecer, quanto às rugas: basta-me a pele macia e cheirar bem. Não dispenso um perfume que me abraça e que vai até aos outros. 

 

Passar esta meta indica que estamos na recta final do nosso caminho, importa pois, não desperdiçar e arriscar, "fazer o que ainda não foi feito", é viver mais com menos tempo, é descascarmo-nos a cada dia, deixar para trás a vergonha, o medo, é apanhar outra vez aquela sensação do que é ser criança, mas com a experiência que a vida nos deu. É bom!

 

 

Por estes dias já é Agosto outra vez

01
Ago18

Escrevi este texto neste blogue em Agosto de 2012. Passaram-se tantos dias desde então, no entanto continuo a gostar destas velhas palavras. Encontrei-as hoje ao acaso. Talvez hoje não as escrevesse assim. Lembro-me perfeitamente de quando as escrevi: estava sozinha, numa sala de aula vazia, e sentia o peso do silêncio e o vazio do espaço. Quando trabalhamos com muita gente é difícil preencher esse vazio, tanto nos sons como no espaço. Ficam as vozes durante muito tempo a habitar a nossa cabeça. 

 

Ilustração Norman Rockwell

 

 

 

Por estes dias a escola parece, assim à primeira vista, abandonada, no entanto, as pessoas continuam a entrar e a sair, não numa azafama, mas num passo mais descontraído.

 

Os pássaros, as formigas e as osgas tomam conta dos pátios, as aranhas apoderam-se dos tectos. É certo que os pássaros são em menor número, e que a alimentação que procuram é escassa. Por estas alturas não há restos de lanches deixados nos pátios, migalhas ou outros afins. Há um silêncio ensurdecedor, um calor sufocante, e imensas cadeiras vazias.  No entanto, parece que as conversas, os gritos e os risos ficaram no ar, parece que pairam esperando que alguém as transforme em som e alegria.

 

O vazio alastra, na tarde de Verão, os sons e as brincadeiras estão guardados no armário da memória, não tarda e aí estarão eles de volta ao pátio, às salas, às escadas, na fila do refeitório, na entrada. As bolas voarão tais como mísseis redondos e precisos (às vezes nem tanto), e vai chegar o tempo dos ralhetes, do refilanço, das angustias, dos amores e desamores.

 

E eles irão passar de meninos a adolescentes num ápice. 

 

De volta ao tempo, a mudez do som continua, alastrando consigo as memórias, os pássaros continuam procurando aqui e ali, as osgas escondem-se, e eu aqui, parece que fiquei presa nalguma saída do tempo.

 

 

 

Texto original aqui: A escola nas férias de Verão. Ou se preferirem...leiam nesta página.

 

 

 

Da minha janela

23
Abr17

arrábida.jpg

 

Da minha janela vejo o mundo, sinto os ventos que sopram. Da minha janela deixo os outros espreitarem, para que sintam os ventos que sopram. Alguns assomam-se devagarinho. Outros vão embora sem espreitar. E há os que ficam comigo a ver o mundo da minha janela. Não tenho interesse  em pertencer a grupos, gosto da liberdade de estar só. Poderia ser um lobo e explorar montanhas e vales, ou gaivota para planar sobre as ondas salgadas e sentir a força do vento nas minhas asas, ou talvez uma águia e fazer um voo picado no meio de um vale, também poderia ser baleia e viajar pelos oceanos. Da minha janela posso ser tudo e nada ao mesmo tempo. Isso fascina-me. A minha janela é grande, a minha janela é pequena. É aquilo que eu quiser. É redonda. É quadrada. É livre. Sem vidros. A minha janela é azul. É amarela. É da cor que eu entender. A janela é minha, mas podem espreitar se quiserem. Eu deixo.

 

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