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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

A fúria do açúcar

08
Out22

IMG-20221007-WA0001.jpegSinto saudades de algumas pessoas que tinham blogs, é que mesmo sem as conhecer pessoalmente, ou virtualmente, sem ter noção do seu rosto ou do seu corpo, sinto saudades das suas palavras escritas, que é como quem diz: da conversa posta avulso, sem esperar comentários, das opiniões e dos desabafos que ou fim e ao cabo são comuns a todos, a uns mais que a outros. 

As saudades de outros escritos, das viagens contadas como fôlegos quentes, daqueles que deixam vapor nos espelhos, dos diálogos banais que identificamos também como nossos, do quotidiano em paralelo que encolhe a solidão, enfim da vida posta em palavras sem som, naquilo que nos une ou nos afasta, sem filtros (como agora se diz, deixa-me rir, que se inventam palavras e expressões para assuntos velhos, é nestas alturas em que me sinto um dinossauro a ruminar demoradamente umas folhas de palmeira nuns trópicos virtuais).

E aqui estou eu, na fúria do açúcar, partilhando uns suspiros escritos em frases pronunciadas num teclado. Há quem assuma que os suspiros são tristeza de um canto da alma, alguns são suspiros vindos do coração, respiração profunda, coisa que refresca o ânimo, ou um suspiro de inspirar aquele cheiro que queremos guardar bem dentro de nós, um suspiro é "um básico" no armário da recordação.

 

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Advento 2021

Dia 27

24
Dez21

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Fotografia Kris Tynski

E estamos assim já na véspera de Natal, quase no final deste advento, como sempre o tempo corre e nem damos por isso, umas vezes parece-nos veloz outras lento, o certo é que é um dos bens mais preciosos que temos, também ele um nosso aliado, que nos faz amainar tudo aquilo que nos possa ter feito sofrer, aos poucos lembrar-nos-emos apenas daquilo que importa, e há medida em que temos mais tempo nos ossos as nossas escolhas são feitas em função disso: o que importa, o que nos faz bem, as boas pessoas. 

Dizemos que são tempos de resiliência, tempos para esquecer, no entanto um tempo em que envolve competências para a resiliência não é um tempo para ser esquecido, é um tempo para festejar, porque fomos capazes, porque nos adaptámos, porque transformámos as nossas vidas ultrapassando barreiras emocionais, porque partilhamos os nossos medos e as nossas angústias, é um tempo sem vencidos, é um tempo liso, fresco, e de liberdade em que sem querer nos pusemos à prova. Talvez o maior sucesso, seja aquele de não dar por aquilo que se passa e depois sentir que afinal tudo é possível.

Quero desejar-vos, a todos os que passam por aqui,  um Feliz Natal,  quero também agradecer as vossas palavras, e dizer-vos que nada é permanente por isso para mim a melhor prenda será sempre o Presente. Obrigada por estarem Presente. 

 

Blogues

Uma página com gente dentro

08
Set21

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Ilustração  Daria Rosso

 

 

Há dias em que cada pessoa que encontro, e, ainda mais, as pessoas habituais do meu convívio forçado e quotidiano, assumem aspectos de símbolos, e, ou isolados ou ligando-se, formam uma escrita profética ou oculta, descritiva em sombras da minha vida. O escritório torna-se-me uma página com palavras de gente; a rua é um livro; as palavras trocadas com os usuais, os desabituais que encontro, são dizeres para que me falta o dicionário mas não de todo o entendimento. Falam, exprimem, porém não é de si que falam, nem a si que exprimem; são palavras, disse, e não mostram, deixam transparecer. Mas, na minha visão crepuscular, só vagamente distingo o que essas vidraças súbitas, reveladas na superfície das coisas, admitem do interior que velam e revelam. Entendo sem conhecimento, como um cego a quem falem de cores.

 

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego, para ler aqui.

A ler por aí

06
Abr21

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Li há dias dois textos que versavam sobre os mesmos temas, num o autor expressava-se com frases curtas, com palavras fáceis de identificar,  não havendo nele qualquer vestígio de escrita criativa, poderia ser monótono lê-lo, mas não, a escrita fluía e levava à descoberta, e em cada paragrafo o leitor sentia o cuidado posto naquelas palavras sobre um tema tão cruel, levando-nos à sua compreensão. 

No outro  texto, o autor fazia jus ao seu poder descritivo, dando em cada frase um concordância verbal e criativa que levava o leitor a descortinar o sentido daquilo que se pretendia descrever, apesar de tudo não vi nele nada que acrescentasse maior riqueza entre um texto e outro. Diria até, que no primeiro texto que li, senti a necessidade de compreender aquelas palavras simples, enquanto que no outro fiquei apenas a ler sem absorver nada daquilo.