Miúda de dez anos:

- Eu quero comprar qualquer coisa, mas não tenho dinheiro.

- Queres? Se não tens dinheiro...Então tens ali loiça para lavar.

- Não! Não! Eu não quero mexer na baba das outras pessoas.

À frente do balcão tenho uma grade que separa o bar da sala polivalente, essa grade é de metal e cheia de buraquinhos, como se fosse uma renda, de dentro consigo ver o que se passa de fora, mas de fora é mais difícil de ver o que se passa cá dentro. Para que se consiga ver aquilo que existe para lá da grade é necessário encostar a cara ao metal e ficar lá colado a espreitar, muitas vezes com uma mão sobre os olhos. Assim, acontece que quando estou lá dentro a preparar a vitrine para a abertura tenho muitas vezes clientes a espreitar pela grade:

- Eu não quero ninguém a espreitar por aqui! Não estou no zoológico!

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- Temos fome!

Alice Alfazema

Miúdo de onze anos com a cara muito branca e redondinha, para o rechonchudo usa óculos coloridos e sempre com um forte sentido de humor, mantêm o sorriso na cara durante a maior parte do dia:

- Vou a caminho da morte!

- Isso vamos nós todos os dias!

- Não é essa, é a Educação Física.

Alice Alfazema

- Olá, bom dia.

- Bom dia.

- Eu sou nova aqui na escola, sou professora, que tipo de pratos fazem vocês aqui?

- Nenhuns, fazemos apenas umas sandes do dia, que levam atum, ou frango, delícias do mar, ou então panados de frango, com alface e cenoura, temos fruta, iogurtes, e tudo o que está na bancada.

- Lá na escola de onde vim, a senhora fazia-nos pratos bem simpáticos...sopa...um bolinho caseiro todos os dias, eram pequenos miminhos, muito agradável.

- Pois, mas nós aqui não fazemos...

- Assim como é que querem que a gente se alimente bem?

Alice Alfazema