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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Almareada

31
Mai20

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Ilustração Mic Salvagno

 

E eu que tantas vezes tive a oportunidade de comer e não comi, porque dizia que não gostava, fiquei agora a salivar por lembranças, mas também por sabores, quem sabe não vá passar a gostar.

 

Ontem comi berbigão da praça. Guardei-lhe o caldo, seus sucos misturados com cebola picada, alho, coentros e azeite. Nesse caldo, cairá, logo mais, o carolo de milho, que farei por almarear* de tanto o mexer com a colher de pau, contrariado-lhe as bolhas e os salpicos que vai querer soltar enquanto coze. Umas pequenas gambas hão de cair nas papas ao final da cozedura. A anteceder o prato de xerém, terei aberto, de novo com alho e coentros, as conquilhas que apanhei hoje de manhã, pela maré.
 
*deixar tonto
 
 

Olhos de gato

07
Ago19

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Gosto de gatos vadios, daquele olhar inconfundível de indiferença perante quem passa. Eu estou aqui, mas só me apanha quem eu quiser. 

 

Quando eu era miúda tinha gatos, mas eram gatos hóspedes, iam a casa quando queriam e nem dormiam por lá, miavam bem alto quando lhes apetecia e participavam em grandes lutas com os gatos dos vizinhos.

 

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Quase todos os nossos vizinhos tinham gatos, não me lembro de cães. Os gatos não eram vacinados e muitas vezes nem tinham nome. Os gatos da minha avó chamavam-se - Pirolito, os da minha mãe eram pretos e tinham o nome de Chibanga, em homenagem ao toureiro Ricardo Chibanga e de quem ela tanto gostava de ver tourear um belo touro. Era tudo muito simples, eu nunca opinei sobre os nomes dos gatos, nem tal me passava pela cabeça.

 

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Havia dias em que os gatos não apareciam lá por casa, a mim fazia-me aflição, mas a minha avó dizia-me: foram às gatas. Porque os nossos gatos eram só machos. Em dias de lua cheia haviam lutas tenebrosas, miados gritados a plenos pulmões, garras afiadas cruzavam os céus e desferiam golpes profundos. Por vezes ficava a pensar nos meus gatos e de como viriam. Passados dias apareciam, magros e sujos, orelhas ratadas e arranhões por cicatrizar. A minha mãe pegava neles e curava-os, qual enfermeira dedicada, só comiam depois do tratamento, e eles compreendiam. 

 

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Os meus gatos eram gatos piratas, que voltavam ao seu porto de abrigo quando queriam e quando podiam, ninguém lhes exigia nada, bem talvez uma festa.

 

 

 

 

 

 

 

 

#diariodagratidao 08-03-2019

08
Mar19

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Obrigada a todas as mulheres que contribuíram para termos os direitos que temos hoje. Obrigada, às que todos os dias procuram mudar o mundo, quer através de pensamentos, quer através de acções. Obrigada, a todas as meninas que querem ser mulheres de plenos poderes. Coragem para todas as outras que têm vontade de se libertar de alguma forma de repressão. Obrigada avó. Obrigada mãe. Obrigada filha. Obrigada sobrinha. Obrigada cunhada.