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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Opostos

21
Out21

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Colheste as flores
da tua chama
apagaste devagar
os teus sentidos
 

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sossegaste o corpo
em sua cama
desguarneceste em mim
os teus motivos
 

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que a vela acesa corte a madrugada
e lhe desdiga a calma e a palavra
Colheste devagar o meu queixume
 

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Ó meu amor!
Ó meu aceso lume!
 

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As rosas, o poema, a inversão das ideias e dos gostos, homem e mulher, com temas opostos  encontram-se  num acaso ao acaso. 

 
Poema é de Maria Teresa Horta as rosas são do aguarelista La Fe

Aguarela

28
Ago21

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Tenho para mim que pintar em aguarela é pintura de Verão e de dias com calor, talvez pela técnica, cuja essência está relacionada com a água e o tempo de secagem, sei lá, faz-me lembrar sempre os dias preguiçosos, gelados e refrescos.

Transmite-me a vivacidade com que vivemos os momentos únicos da vida: o amor, o nascimento de um filho, um abraço sentido, a família, as férias, os jantares com amigos, as risadas de ficar a doer a barriga, coisas boas que por vezes ficam esbatidas pelo tempo, às vezes pelas lágrimas, como quem junta água à tinta levando o pincel ao papel, a mistura da tinta com a água que pode resultar em cores inesperadas.

A aguarela parece-me de uma simplicidade arrebatadora de sentidos,  não há cor branca, porque branca é a base do papel, assim quando a pincelada encontra o papel e a cor é aí colocada, não mais é possível corrigir o que foi feito. Por isso, a aguarela é um trabalho de execução rápida, como rápida é a vida, apesar de por vezes não o parecer, assim  o acabamento definitivo só depende do tempo e da secagem da água. Tal como nós, que somos essencialmente água. Somos aguarela. 

 

A ilustração é de Blanca Álvarez, podem ver mais aqui, e quem sabe até se iniciarem num curso. Aventurem-se. 

 

#diariodagratidao 18-05-2019

18
Mai19

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Ilustração Adriana Galindo

 

A vida é um círculo, tal como uma mandala, cheia de cores, de intenções e emoções, trabalhosa ou simples, vazia ou aberta a outras situações. Nem sempre se tem as cores com as quais se quer pintar, nem os materiais mais adequados à sua feitura, mas o que nos encanta é a sua contemplação, o modo de chegar até lá, tudo aquilo por que se passou, ou como gostaria de ser. Tal como uma íris envolta em mistério numa imaginação desvairada ou numa inércia em que ninguém sabe quando vai acabar.  

 

Miradoiro

05
Jan19

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Pintura Isabel Alfarrobinha

 

A vida só é possível
reinventada.

 

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… — mais nada.

 

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

 

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

 

Não te encontro, não te alcanço…
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

 

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

 

 

 

Cecília Meireles

 

Onde fica este miradoiro?