Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Distribuir carinho

em forma de agradecimento

24
Mar22
 

ucrania_Egle Plytnikaite.JPG  

Ilustração Egle Plytnikaite

Hoje assisti a algo surpreendente, uma semente de sonho.

À hora de almoço, decidi ir ver o rio, como já tenho dito gosto de ver o rio em dias de mau tempo, gosto especialmente de comparar a cor da água com a do céu, as matizes cinzentas que se desdobram multiplicando-se até sermos incapazes de as contar.

Foi uma visita rápida, um toca e foge, havia alguns homens à pesca à linha, vi que a relva do jardim estava crescida deixando ver os trevos e os dentes-de-leão em pleno fulgor, não tive tempo de encontrar um trevo de quatro folhas, começou a morraçar e tive de abrir o guarda-chuva.

Apressei o passo pois a hora do almoço passa rápido, na minha frente ia uma mulher com uma miúda pequena pela mão, talvez com quatro anos, cabelo loiro penteado num rabo-de-cavalo minúsculo espetado no alto da cabeça, trazia vestido um casaco polar cor-de-rosa que lhe dava até ao joelho, eu na pressa nem tinha dado conta que ela me fazia adeus, em passo apressado alcancei-a depressa e mais uma vez ela voltou-se para trás para me fazer adeus, retribuí sorrindo, mas depois lembrei-me que tinha a máscara na cara, levantei a mão e acenei-lhe de volta, verifiquei que ficou feliz com o meu gesto.  Entretanto, tínhamos chegado perto da passadeira, aproximou-se uma senhora para também passar a estrada, a miúda puxa a mãe para perto da mulher, e sem nunca largar a mão da mãe a miúda faz festinhas à mulher, a senhora contente com o gesto pergunta-lhe o nome, não percebi o que a miúda disse, apenas ouvi a mulher responder-lhe "não sabes falar?", para logo depois perguntar à mãe: "vieram da Ucrânia?", ao que a mãe respondeu com um afirmativo aceno de cabeça, entretanto já a miúda tinha agarrado a mão da senhora, por momentos ficaram as três de mãos dadas, senti as lágrimas nos olhos perante a ternura daquela miúda, nada do que possa aqui escrever é capaz de descrever aquilo que senti, foi um momento tão límpido de amor, que julgo que é isto que se chama um sentimento de Paz.

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
 
Eu cresci a ouvir este poema de António Gedeão cantado pela voz de Manuel Freire, foi um poema que marcou uma geração reprimida por uma ditadura fascista e atormentada por uma guerra colonial, uma geração ávida de liberdade em que o sonho se afirmava como o único caminho. Sempre que penso em Liberdade vem-me à memória estas palavras e esta voz.
 

  

 
 
 

Postal

26
Out19

lavanda.jpg

 

Queridos amigos,

Tenho tido pouco tempo para responder aos vossos comentários, sei que é uma falha minha, mas agradeço-vos do coração as mensagens que me deixam todos os dias. O blog faz parte da minha vida, assim como vocês, não interessa que não nos conheçamos fisicamente, isso para mim não tem grande valor, o que me preenche são as palavras de carinho que me deixam aqui todos os dias, ou como ontem no espaço da MJP, onde falei sobre Liberdade, ou ainda terem-me nomeado para os Sapos do Ano, é esta interacção neste espaço virtual que me fascina e seduz. Um agradecimento especial à Magda L Pais e ao David Marinho, por organizarem este evento de forma espontânea e até divertida. 

 

É bom estar aqui neste bairro do Sapo, um agradecimento também para a equipa do SAPOBLOGS, especialmente ao Pedro, que está sempre pronto para dar uma ajuda, que tira fotografias lindas com pormenores que descobriu por acaso. Também quero agradecer àqueles que não fazem parte desta comunidade e que também me visitam, este espaço faria pouco sentido se não existissem. 

 

Obrigada

 

 

Alfazemas

25
Mai19

and.jpg

 

Ilustração  Steve Johnson i Lou Fancher

 

 

Estão a ver aquelas alfazemas no topo do blog? Gosto muito, dá um ar primaveril aqui à casa, pois...mas eu não conseguia dar esse ar, imaginava, mas não conseguia transportar isso para realidade, então num dos comentários de um destes posts aí para baixo, eis que surge a ajuda, sem ninguém pedir, a obra foi feita pelo Pedro Neves, como eu ainda não tinha tido a oportunidade de lhe agradecer como devia, eis aqui  o meu obrigada, pela sua generosidade e disponibilidade. 

 

Obrigada Pedro!