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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Daqui até ao Natal -16

04
Set24

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mais importante que ter uma memória é ter uma mesa
mais importante que já ter amado um dia é ter uma mesa sólida
uma mesa que é como uma cama diurna
com seu coração de árvore, de floresta
é importante em matéria de amor não meter os pés pelas mãos
mas mais importante é ter uma mesa
porque uma mesa é uma espécie de chão que apoia
os que ainda não caíram de vez

Ana Martins Marques


Dou por mim a pensar se reconheceria as vozes que outrora me chamaram, ou até os rostos, é inevitável a perda da memória à medida que o tempo nos afasta das pessoas vividas, então de repente ao virar de uma esquina, lá está um corpo parecido, vestimenta e corte de cabelo idêntico, aquela pele fininha e coberta de manchas castanhas da idade, e fico ali parada, a disfarçar que estou a olhar um pormenor qualquer, remexo a mala e ajeito os óculos de sol, dou novamente uns passos e olho para trás, um pensamento idiota vem-me à mente: e se eu lhe pedisse para lhe dar um abraço será que me deixava fazê-lo? Depressa se desfez o pensamento, começo novamente a andar, não olho mais para trás, mas arrependo-me, de não ter tido a ousadia suficiente. 

Micro contos - O abraço

01
Nov15

 

 

Imagem  Marta Orlowska

 

 

Começou a descer a colina, sentia os pés molhados da chuva que caía intensamente. Tinha frio. Viu-a ao longe, caminhando com a leveza de sempre e um sorriso no rosto. Acenou-lhe com entusiasmo. Foi-lhe retribuído o gesto. Sentiu-se feliz. Que saudades. Há quanto tempo não a via? Mais de quinze anos. Aproximaram-se e sorriram uma para a outra. Era um riso sem som. Sereno. Mágico. Distante. Abraçaram-se. Um abraço que percorreu o tempo, numa outra dimensão. Abriu os olhos e sentiu a almofada entre os braços. O sono foi-se. O abraço ficou.

 

 

Alice Alfazema