Tróia
A minha praia. A praia da minha infância, adolescência, dos golfinhos e das gaivotas, do pôr do Sol na Arrábida. Na outra margem Setúbal. Areia fina e dourada, ondas mansas, água transparente. A praia das giestas brancas que florescem em Fevereiro.
Este ano voltei para lhe fazer uma visita, apesar da ostentação das ecocasas e outros afins achei-a triste.
Quando antes chegávamos a Tróia o barco ancorava numa praia de areia fina e dourada. Os risos e brincadeiras dos miúdos, os mergulhos da ponte e o correr para voltar a fazê-lo - era ver quem chegava primeiro... hoje a ilustre marina e os prédios encaixotados são o olhar de boas-vindas de quem chega de barco. Uma marina, meia-dúzia de barcos, gente fina. Eu continuo a olhar tentando encontrar semelhanças com as minhas lembranças. Nada. Não há azafama. Vou até ao pontão, a água cheira mal, existe espuma amarela junto à areia. Do outro lado da marina ainda resta uma língua fina de areia, feita, agora de barreira, é como se tivessem arrancado um pedaço das minhas memórias. A rede ao longo da praia permite aos turistas privacidade. Um verdadeiro resort.
Na televisão passa as sete maravilhas praias de Portugal, uma fantochada, tudo muito bonito, blá-blá-blá, o programa feito em Tróia, (onde os bilhetes dos barcos são inflacionados com o intuito de restrisgir pelo lado económico o acesso à praia). Alguém fala que tudo tem memórias, pois as minhas e as de muitos outros foram arrancadas, para fazer, precisamente numa praia linda uma marina, um verdadeiro ataque ambiental, coberto pela lei e interesses.
Alice Alfazema