Fim do ano
Espreitar
Ilustração Giuliana Marigliano
Fui espreitar o que restou do ano, como sempre não sei escolher nada, não dou muita importância a fazer esta retrospectiva. Prefiro fazê-lo diariamente. Vinte e quatro horas é o que me basta.
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Ilustração Giuliana Marigliano
Fui espreitar o que restou do ano, como sempre não sei escolher nada, não dou muita importância a fazer esta retrospectiva. Prefiro fazê-lo diariamente. Vinte e quatro horas é o que me basta.
Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas.
Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram.
Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.
Palavras de Joaquim Pessoa
Vida. Tudo pode ter sido dito para esta palavra, há muitas vidas dentro da mesma vida, mas o mais importante é a conclusão, é nela que vais pensar, o que quero ser? Ou como quero ser recordado? Acordai hoje é dia de começar a celebrar!
Haja ou não deuses, deles somos servos.
Livro do Desassossego. Vol.II. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1990.