Eram dois belos cedros, provavelmente plantados no mesmo dia, no meio deles existia um banco forrado a azulejos. Eram tão altos que o pescoço nos doía se quiséssemos ver as suas copas. Majestosos. Com os braços erguidos ao céu...às vezes dançando ao vento. Ao longe as Serras, o Oceano, o Rio, Palmela de um lado, Setúbal de outro, a seus pés a Quinta do Hilário.
Árvores centenárias.
Mudaram-se os tempos, as quintas se foram, a cidade cresceu, alastrou e com ela todas as vicissitudes do dinheiro. Dividiram a quinta. Voltaram a dividi-la, deixando-a em pequenos quadrados, belas casas se ergueram, arquitectura moderna, vidros, muitos vidros. Os cedros no último canto da quinta continuavam erguidos e majestosos.
E a última parcela foi vendida e nela construída a última casa, linda, linda, linda!
Aos cedros nada restava, dois metros de parede a parede, de casa a casa. A sua cor foi mudando, as suas raízes não aguentaram, o verde desapareceu, no entanto continuavam majestosos, mortos mas majestosos.
Quantos vezes passei por ali e imaginei luzes de natal naqueles belos ramos, quantas histórias saberiam estes magníficos cedros. Este ano só o vazio lá existe, mais uma casa vazia...
Alice Alfazema