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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Refúgio

"quero o bracejar dos pássaros"

23
Jan23

Surrealistly 97.jpg Ilustração Surrealistly

 

Hoje acordei com a dor das árvores;
estou de pé e o meu tronco sustém
o vazio e a solidão dos ramos
côncavos de espera,
impacientes de ternura.
Quero o bracejar dos pássaros,
ser refúgio dos ventos que me procuram,
tornar-me na folhagem que te abriga,
ser o ninho na tua noite, aberto
com a inquietação e a serenidade
dos rumores das aves mais tardias.
Não, desta vez não vou ...
 
Poema Lília Tavares

Creio que o amor tem asas de ouro

17
Dez21

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Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;
 

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creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,
 
 

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creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,
 

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creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amém.
 

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Poema de Natália Correia
 
Para ouvir Ana Moura e Jorge Fernando
 

 

Um templo a céu aberto

25
Jun21

natural.JPG

Ilustração Tomasz Alen Kopera

Sempre me questionei se os pássaros cantavam para as árvores e se elas se deliciavam com o seu canto e se poderiam bater palmas ao sabor do vento, sem ninguém dar por isso. Tenho observado como os gaios confraternizam e se abrigam debaixo da folhagem verde e robusta da grande árvore existente defronte da minha janela. Ao final do dia, quando o sol se acalma e nos diz adeus as sombras da noite começam a invadir o horizonte, pelo meio do arvoredo da avenida aparecem as andorinhas treinando o seu voo vertiginoso em pares, fazendo inveja aos pilotos dos F16, em verdadeiras acrobacias sincronizadas ao centímetro.

Há cerca de dois anos cortaram todas as árvores de rolão, não havia vida nem harmonia naquele espaço, nem poiso, nem sombra, a paisagem era algo fantasmagórico, lembrando um cenário de apocalíptico. 

Penso em como a Natureza consegue ser tão generosa deixando-me  num estado de despertar constante, existe neste poder sereno a linguagem silenciosa de um mistério de milénios, são murmúrios de vento, braços de sol, frescura divina. Alimento encantado sem entrar no corpo. 

Custa-me saber que não viverei o tempo suficiente para que os meus braços não tenham a capacidade de conseguir alcançar o diâmetro do tronco da pequena árvore que plantaram há meses.