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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

#diariodagratidao 27-05-2019

27
Mai19

água.JPG

 

A água também nasce pequenina
- nasce gota de orvalho ou de neblina...

A água também tem a sua infância
- quando apenas riacho cantarola
brinca de roda nos redemoinhos
salta os seixos que encontra
e faz apostas de corrida - travessa -
por entre as grotas e peraus
e arranca as flores que a marginam
para engrinaldar a cabeleira solta
sobre o leito revolto das areias...

A água também tem adolescência
- sonha lagos românticos à lua
fitando os astros namorados dela
embevecida em seus olhos de ouro...
e assim sempre amorosa e sonhadora
vai tecendo e bordando - dia e noite
o seu vestido de noiva nas montanhas
e o seu véu de noivado nas cascatas...

A água também tem maturidade
- fica serena e grave em rios fundos
e num destino generoso e amigo
espalha a vida que em si mesma encerra
semeia bênçãos para o grão de trigo
abre caminhos líquidos da terra
e enlaça os povos através dos mares...

A água também tem sua velhice
-e de ver-lhe os cabelos muitos brancos
onda lenta de espuma destrinçada em neve, nos ares flutuando...

A água também sofre...e quando sofre
se faz divina e vem brilhar em lágrimas
ou se reflecte a dor da natureza
geme no vento transformada em chuva.

A água também morre...e quando seca
- e a sua morte entristece tudo :
choram-lhe, enfim na desolação,
todos os seres vivos que a rodeiam
porque ela é o seio maternal da vida
e de tal maneira ama seus filhos rudes
que muitas vezes para os salvar se deixa
ficar sem o murmúrio de uma queixa
prisioneira de poços e açudes...

Bendita seja, pois, água divina
que fecunda, consola, dessedenta, purifica,
e que, desde pequenina,
feita gota de orvalho,
mata a sede das plantas entreabertas
e prepara o festivo esplendor da primavera...
e que, nascida em píncaros da serra
vem de tão alto, procurando sempre ter
um fim de planície e de humildade
até perder, na última renúncia,
o nome de batismo de seus rios
para ficar anônima nos mares.

 

 

Poema de Raul Machado

O retorno, a água é vida...

26
Nov17

 

Ilustração John Shelley

 

 

 

Era uma vez uma gotinha de água que vivia no mar sem fim.

Juntamente com as suas irmãzinhas formavam o Mar.

Um dia, a menina Gotinha de Água estava a dormir, a sonhar,…

Então o Sol beijou-a e logo ela subiu no ar.

No céu, olhou à sua volta e viu milhões de gotinhas como ela boiarem no ar.

Vieram os ventos e começaram a empurrar aquelas nuvens e a gotinha viajou por muitas terras…

 

 

 

Texto de Papiniano Carlos (1918-2002), A menina Gotinha de Água, um livro editado nos anos 60 e que merece ser lido em qualquer idade. 

 

 

 

 

Alice Alfazema