Suicídio
Na semana passada uma actriz/modelo conhecida do público português, mas não o suficientemente famosa para dar lugar a grandes manifestações de pesar, saltou da Ponte 25 de Abril, num salto sem retorno, ela uma mulher ainda com tanto por viver, com três filhos, um dos quais com autismo severo. O ano passado esta mulher deu uma entrevista a um programa de televisão, daqueles que passam durante a tarde, diz-se que foi uma entrevista em que se antevia o sofrimento daquela mulher que assumiu os seus vícios para compensar o sofrimento de não ser capaz de estar à altura daquilo que a sociedade esperava dela: uma boa mãe, uma mulher resiliente, uma mãe e trabalhadora determinada, sem cansaços nem queixumes.
Não ouvi ou li grande coisa sobre este assunto, sobretudo de opiniões de como é viver em sofrimento, numa permanente luta consigo mesma, sendo que tal situação acabou por levá-la ao desespero total. Neste sofrimento surdo de que não se é capaz de se reencontrar a paz de espírito, o sossego do corpo, o sentir de uma abraço, a alegria de viver.
Apesar de tudo, este sofrimento foi falado no ecrã, sítio onde mais nada resta, e muita gente viu e falou, e disse que trabalhasse e que se fizesse à vida, e a mulher foi-se e eles continuaram falando, falando como se nada tivesse acontecido.
Colinas mergulham na brancura.
Estrelas ou pessoas
Me olham com tristeza, desapontadas comigo.
Um fio de hálito fica no caminho.
Ó, lento
Cavalo cor de ferrugem,
Cascos, sinos doendo –
A manhã toda
Manhã ainda escurecendo,
Essa flor ao relento.
Meus ossos sentem um sossego, os campos
Distantes dissolvem meu coração.
Eles ameaçam
Me abandonar por um céu
Sem estrelas e órfã, água escura.
Poema Sylvia Plath