Porque vou fazer greve dia 26 de Maio?
Lembro-me de ter começado a trabalhar com um horário semanal de quarenta e cinco horas, de termos menos dias de férias, de haver uma ausência de muitos direitos que agora usufruímos. Os tais que damos hoje como de adquiridos e consagrados na lei. Esquecem-se que foi através da garra de muitos trabalhadores e do seu salário que tal foi possível.
Recordo-me de que os chefes raramente faziam uma greve, havia no entanto excepções, sabíamos que tinham um lugar e certos privilégios a defender, sabíamos que tinham medo de os perder. As pessoas viam-se a si mesmas como algo de valor, mas faziam-no no colectivo. Lutavam como uma comunidade, tinham o objectivo do bem comum.
Dia 26 de Maio está marcada uma greve nacional da função pública, faço parte desses que têm emprego para toda a vida, como leio em tantos sítios, ganho no entanto o ordenado mínimo nacional, vai para doze anos, nunca fui aumentada, nunca tive prémios de produção ou de mérito, tenho apenas um contrato de trabalho, onde cumpro o meu horário e faço por dar o meu melhor, todos os dias.
Porque vou fazer greve no dia 26 de Maio? Vou fazê-lo porque nunca progredi na carreira, porque quero um salário digno, ninguém vive com dignidade com aquilo que me pagam. E poderão argumentar que são tempos de crise, que há quem não tenha emprego, e que as greves são formas de luta ultrapassadas. Mas como fazemos chegar a nossa voz, se não a juntarmos em uníssono? Se não lutarmos para o bem comum somos estéreis. Pensamos que as nossas acções apenas nos pertencem, não é verdade. O futuro desenha-se todos os dias e ele deve ser global, não apenas de alguns.
Alice Alfazema