O mundo, as mãos, a tela e a poesia
Pintura Omar Ortiz
As mãos feitas em óleo sobre linho, as mãos que levam e trazem o mundo de cada um, as mãos do pintor que a cada pincelada revela a pele e as transforma em movimento de dar e receber. As mãos do poeta, que faz com elas poesia e se rebela com um mundo caduco, onde apenas a solidariedade pode dar força às mãos. As mãos que acolhem, que mudam acções, que matam e que dão vida. É nas mãos que és acolhido quando nasces, quando queres força e carinho, é nelas que escondes a cara quando tens vergonha e quando tens frio. As mãos que podem mudar o mundo para melhor...onde estão?
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
Alice Alfazema