O meu Presépio de Natal
Este é o meu presépio, feito com figuras de barro que pertenceram à minha mãe, uma herança feita de terra vermelha, um rei já tem o pescoço colado, caiu do camelo, mas continua no activo, fazendo a sua parte levando todos os anos a sua oferta ao Menino.
Os camelos estão cansados da longa viagem que fizeram do sótão até à sala, estiveram mais de duas semanas no corredor fechados numa caixa colada com muita fita cola e embrulhados em papel de propaganda. Finalmente viram a luz do candeeiro da sala e encontraram-se com as estrelas que brilham na velha árvore artificial de natal.
Aqui estão os três Reis Magos, no meio das ovelhas, para celebrar o nascimento, a renovação, o começo da vida. Um começo que começa nu, frio e choroso. Tal como o Inverno que prepara o caminho para os brotos.
Aqui são todos um, sem olhar a vestes, sem olhar a línguas, sem olhar a espécies.
A minha árvore é um amontoado de anos, cada bola, cada ano, muitas cores, velhas fitas, nada ali é novo.
As cores aparecem ligadas por coisa nenhuma, é uma desarmonia colorida, quente que envolve lembranças de outros natais, de outros risos que não posso mais ouvir, mesmo que queira. No entanto, parece que me podem aparecer a cada instante.
O velho burro aquece o meu Menino, acompanhado da vaca, o menino parece confortável nas palhinhas, como tantos outros, que se riem da miséria em que vivem e dos trapos que vestem.
A música é uma constante na minha sala, nunca poderia faltar na minha árvore.
Duas semicolcheias e uma clave de sol, façam a música que mais gostarem, bailem, ouçam, vejam, vivam como se tivessem sempre a renascer, assim é a música.
O Menino está rodeado pela Mãe e pelo Pai, a face da mãe está corada de felicidade, é tempo de celebrar a vida que se repete.
E de agradecer aos amigos que nos dão provas de amizade e não de utilidade, porque a vida é uma ponte para surpresas nem sempre boas.
Fui colher as verduras à Serra, para tê-la perto de mim, porque os amigos também podem ser de uma outra dimensão, num outro corpo que não o humano.
Que surpresa, alfazema no meio do chão, é o meu presente para o Menino, à que perfumar a vida, para depois colher, para recordar, para amar e deixar ir quem não faz parte daquilo que queremos ser.
A mulher lava a roupa num dia de muito frio, segue com resiliência, porque na vida precisamos ser assim, não desistir e resistir. Lá haverá um tempo em que seremos lembrados, que o sejamos por boas razões.
O pastor continua tomando conta das suas ovelhas, sem pressa, leva-as pelos prados mais verdes para que comam o melhor que tem para lhes dar. Ele e o seu rebanho são apenas Um.
E as ovelhas agradecem dando-lhe a sua lã que será quente numa boa camisola ou numa manta como a que te cobre neste dia de muito frio.
O Menino está neste momento a rir, será que está feliz por ser importante para alguém?
Feliz Natal! E que ele dure muito mais que um dia.
Alice Alfazema