O fogo na minha rua
Não gosto de lareiras, não é que não goste de me aquecer no fogo, ou de ver o fogo, não é isso, acho o fogo hipnotizante, reconfortante, meditativo, e até sinónimo de vida. O que não gosto nas lareiras é o cheiro a incêndio, a árvores queimadas, a sofrimento, a perda de habitat, não gosto, detesto. Por aqui, na minha rua, no meu bairro, o cheiro é tão intenso, que fica na roupa, no ar, é como se durante uns meses eu vivesse num permanente incêndio.
Por qualquer berma de estrada é possível encontrar pilhas de lenha para venda. Serão às toneladas. Pergunto-me constantemente de onde vêm? E o que ficou no espaço de onde vieram? Custam poucos cêntimos o quilo e vendem-se como pães quentes. Esgotam-se com facilidade. No entanto, depressa são repostas. Pergunto-me se será licito continuar-mo-nos a aquecer desta forma tão primitiva. Em cada casa um pequeno incêndio, todos os dias perto de si.