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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Mulheres

Catarina Eufémia

19
Mai20

catarina eufémia.jpg

 

A 19 de maio de 1954 na aldeia de Baleizão, um grupo de camponeses dirigiu-se à residência do patrão. Entre esses trabalhadores rurais, contava-se Catarina Eufémia, grávida e com um filho de oito meses ao colo. Entre outras pretensões, reivindicava-se para as mulheres um aumento da jorna (salário de um dia de trabalho) de 16 para 23 escudos (o que representa na moeda atual - o Euro - um aumento de 8 para 11 ou 12 cêntimos), na campanha da ceifa. No entanto, a GNR apareceu, como tantas outras vezes, acabando por intervir duramente. Para além dos tiros para o ar, de intimidação e para dispersar a concentração de camponeses, outros houve que tiveram um destino mais cruel e sangrento. De facto, o tenente Carrajola, da GNR, no caminho do grupo de assalariados para a casa do patrão, matara Catarina Eufémia com vários tiros, que caíra para o chão com o filho ao colo. Este assassinato a sangue-frio foi uma das mais brutais ações do regime de Salazar, causando uma revolta surda e contida entre as massas rurais alentejanas.

 

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O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
 
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua
 
 
 
Poema é de Sophia de Mello Breyner Anderson 
 
 
 
 
Saber mais aqui.

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