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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Maio dia 3

03
Mai14

 

Hoje fui até à praia e sublinhei a lápis este livro que estou a ler, sublinhei-o perante o Atlântico, com a água brilhante diante de mim, deixo-vos aqui um pequeno resumo. Apetecia-me deixar mais palavras, mas por hoje bastam estas. Divirtam-se e sejam sempre o Sujeito na vossa vida.

 

 

 

A experiência de ser um sujeito:

 

Em que consiste a experência pessoal do sujeito?(...)

 

Na história, o sujeito manifestou-se através de experiências cuja importância era claramente sentida. Hoje, o respeito pela pessoa humana e pela liberdade é frequentemente envolvido em lutas do bem contra o mal.(...)

 

Há muito menos vítimas inocentes cilindradas no sem-sentido da história ou nos efeitos ocultos das guerras pelo petróleo do que afirmam os espíritos fortes. E há muitos mais homens e mulheres do que se diz que morreram a combater o mal e com a consciência de se sacrificarem, de protestarem, de esperarem. Nas situações mais dramáticas, não é fácil provar afirmações deste tipo. No entanto, já não se pode dizer hoje que os judeus de Varsóvia, os mortos-vivos de Auschwitz, os deportados de Kolyma e tantos outros que foram aniquilados tinham perdido toda a humanidade antes de serem atirados para a morte.(...)

 

Como pensar que os que morreram em tão grande número em Estalinegrado lutando contra a Werhmacht não tiveram nenhuma consciência do papel trágico e glorioso que a história lhes atribuíra ao tomar a sua vida, mas fazendo deles actores de uma libertação tanto mais preciosa quanto eles próprios, soldados de Estalinegrado combatiam sob o uniforma de um regime totalitário?(...)

 

É natural que nos lembremos primeiro dos grandes combates, porque é nessas situações que nos podemos aperceber melhor do que separa a luta contra um inimigo do combate pela dignidade humana. Mas quando nos aproximamos de experiências mais pessoais, e portanto menos espectaculares, surgem outras dificuldades: como distinguir entre a consciência do sentido da experiência vivida e de todos os mecanismos psicológicos pelos quais fugimos- ou pelo contrário somos sufocados pelo amor de nós mesmos? A experiência de ser um sujeito manifesta-se antes de tudo pela consciência de uma obrigação não para uma instituição ou um valor, mas com o direito de cada um viver e ser reconhecido na sua dignidade, no que não pode ser abandonado sem tirar à vida todo o seu sentido. Sentido do dever, da obrigação, estas expressões são usadas por todos, mas só se sente sujeito aquele ou aquela que se sente responsável pela humanidade de um outro ser humano. É quando reconheço os direitos humanos do outro que me reconheço a mim mesmo como ser humano, que reconheço obrigações para comigo mesmo.(...)

 

A ideia de sujeito faz aparecer em mim e no outro o que nós podemos ter em comum.(...)

 

A nossa vida vivida pode ser bastante controlada, submissa ou corrupta para nos privar de toda a presença do sujeito e nos cingir ao dinheiro, à hierarquia ou à repressão. Mas essa pobreza, esse vazio, não são inevitáveis. Basta que reencontremos a emoção que reclama a solidariedade ou que sejamos tocados pelo amor ou pela esperança de uma libertação, para que não nos limitemos a uma rede de estatutos e de papéis, de gratificações e de punições, de aceitação ou de uma recusa da ordem social. A nossa vida deixa de ser inteiramente social.

 

Texto retirado do livro, Um Novo Paradigma. Para compreender o mundo de hoje, Alain Touraine, 2005.

 

 

 

 

Alice Alfazema

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