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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Julho 1944

Auschwitz

02
Jul20

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Quando brilhou a aurora, dissolveram-se
Entre a luz as florestas encantadas,
Arvoredos azuis e sombras verdes,
Como os astros da noite embranqueceram
Através da verdade da manhã.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Poesia, 1944

 

Tenho estado a ler sobre Auschwitz, Julho de 1944, é-me difícil de ler, tenho-o lido aos poucos, continuo surpreendida com as atrocidades ali cometidas, com a banalização do sofrimento, com a brutalidade da morte, da morte lenta, da morte através da escolha da vida com um simples gesto para a direita ou para a esquerda, as memórias das filas intermináveis de gente, as pilhas de roupas e de pertences expostos ao longo da linha férrea, dos fornos onde milhares de corpos foram queimados, do cheiro adocicado no ar, do desaparecimento de famílias inteiras, onde o lucro das empresas de produtos químicos e os negócios paralelos que reinavam acima de tudo e de todos os infelizes que ali iam parar, as experiências laboratoriais com o à vontade sobre o sofrimento e a morte alheias. 

Julho de 2020. Por todo o lado se fala acerca do problema da saúde mental que vamos ter de enfrentar por termos ficado confinados durante este tempo, pela perda de muitos empregos, pela falência de muitas empresas,  pelo medo instalado de contrair a doença, pela ansiedade em relação ao presente e ao futuro. E eu pergunto-me, o que  fizeram estas pessoas que viveram o Julho de 1944, para poderem ultrapassar as suas memórias e as suas perdas, enquanto Sophia escrevia sobre as florestas encantadas? 

 

 

 

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