Já viram as nossas árvores?
Não sei se alguém já reparou em como andam a ser feitas as podas das nossas árvores em meio urbano. Para mim estas podas radicais são amputações de um Verão mais fresco, e do futuro, são uma falta de respeito pelo biodiversidade, pois uma árvore é muito mais que um tronco e meia dúzia de ramos.
Por aqui onde moro as árvores que já aqui descrevi, este ano foram laminadas, não há um único galho para os pássaros poisarem. Onde havia gaios, poupas, mochos, pintassilgos e pardais, entre outros, não há nada, nada de nada, nem sombra, nem porte.
As árvores parecem-me garfos erguidos aos céus, uma tristeza, tenho vontade de chorar, um mau exemplo nos dias que correm e em que tanto falamos das alterações climáticas e de tantos outros problemas do meio-ambiente.
Já viram por aí grandes troncos com cotos pequeninos? Será uma árvore um ser vivo? Ou um mero capricho de alguém? Não temos direito a usufruir de árvores de grande porte em meio urbano? Serão as árvores alvos a abater? Quem tem ódio às árvores?
Oração da Árvore
Tu que passas e ergues para mim o teu braço
Antes que me faças mal olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de inverno
Ou sou a sombra amiga
Que tu encontras quando caminhas sob o sol de agosto
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que mata a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa,
A tábua da tua mesa,
A cama em que tu descansas
E o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada,
A porta da tua morada,
A madeira do teu berço
E o aconchego do teu caixão.
Sou o pão da bondade e a flor da beleza.
Tu que passas olha-me bem
E não me faças mal.
Veiga Simões, Arganil, Portugal, maio de 1914.