Já fui água
Ilustração Giulia Neri
Quando era miúda lembro-me de ter partido um termómetro, daqueles de vidro e com mercúrio, tenho a ideia do liquido espesso a espalhar-se pelo chão, num cinzento metalizado, como prata. E para meu espanto aquilo transformava-se em bolinhas que se podiam separar e voltar a juntar, numa dança hipnótica de vai e vem, unidas e separadas. Não tenho a noção de quanto tempo brinquei com aquilo, experimentando o processo vezes sem conta, com um lápis empurrava as bolas até se formarem uma, e outra vez a dividia.