Gosto de ser velha
Hoje apercebi-me que gosto genuinamente de ser velha, a maior das liberdades é aquela que vive em nós.
A velhice deu-me uma maior clareza de pensamento, considero isso um bem maior. Num paralelo com a separação dos resíduos, plástico, cartão, vidro e indiferenciados, é assim a lógica do pensamento na velhice, há coisas e pessoas que nos acrescentam e das quais não abdicamos porque de algum modo se encaixam nas nossas emoções, acções e hábitos diários. Nesta roda roda, há outras que nos usam como recipientes de vidro ou de plástico com tudo o que isso implica pela dinâmica do material em si, existem, ainda, as outras que nos usam como cartão, se for cartão limpo estamos quase safos, mas se o cartão for contaminado com gordura, aí perde-se a essência, e isso é mau.
Contudo, a velhice permite-me assomar a uma liberdade plena de escolhas conscientes, que derivam do traquejo da vida, e coisas que antes tinham uma importância maior, passam a simples vírgulas que levam a determinadas explicações catalogadas como numa biblioteca, tal como na reciclagem transformam-se noutros significados, entrando em processo de outra vida a utilidade multiplica-se. O valor? Isso depende da utilidade.

