Fotografias em carteiras e no telemóvel
o amor e outras cenas
Eu não sou pessoa de ter fotografias na minha carteira, não sei a que mundo pertenço, certamente não é ao mundo das pessoas fofinhas e queridinhas. A fotografia de fundo do meu telemóvel é uma fotografia do meu cão. De todas as pessoas que conheço sou talvez a única que não faz declarações de amor aos filhos e ao marido nas redes sociais.
Para mim o mais importante é o mundo prático, não tenho sessões de fotografia de quando estava grávida, talvez duas fotografias, que nem sei onde estão, nunca fiz álbuns de fotografia para os meus bebés, nem me lembro de qual foi a primeira palavra que disseram, admiro as mulheres que se lembram disso, e as que têm vocação para coleccionar pormenores, guardei apenas algumas roupas das crianças, para mais tarde recordar. Tenho também desenhos feitos por eles e deixados por mim ao acaso nas gavetas dos móveis do meu quarto, guardo-os assim para me surpreender quando ando em arrumações, claro que os volto a deixar por lá.
Eu sou assim ...de mais coisas práticas, de fazer bolos para por a casa a cheirar a conforto, de fazer almoçaradas e de dizer piadas, embora ultimamente tenha andado com o humor pela hora da morte, talvez seja da menopausa, que falta me fazem as hormonas. Sou mais de lavar e passar resmas de roupa, sou o lado prático, chato e exigente, às vezes também dou abraços, dou sempre a minha presença e quase nunca a minha fotografia, não gosto de me impor perante o amor. Amar é como Liberdade, preso deixa de ter sentido.
Sou mais de dar tempo e ouvidos, não gosto de gente presa em fotografias, mesmo que as mesmas sejam de dias alegres, faz-me impressão vê-las ali paradas num só momento, gosto mais de tirar as fotografias de dentro de caixas e de redescobrir momentos. Não gosto de fotografias junto a dinheiro, as pessoas, mesmo que em formato papel, devem estar junto ao coração e não à razão.
Gosto de fazer para ter, e de ter para dar, tenho lãs e agulhas...
As ilustrações são de Lucy Almey Bird