Entre a ponte e o céu
Eu estava na ponte e dei um salto até à outra margem, vi homens e mulheres vagueando apressadamente pelas ruas da cidade. Todos os dias era a mesma coisa, passavam a ponte de um lado para o outro, num lado descansavam, no outro andavam apressados em rebanhos de gente que tem de cumprir horário.
À noite a ponte iluminava-se e dava as boas-vindas aos astros e aos morcegos, corujas também lá apareciam. Um dia uma estrela ficou presa num pilar da ponte, julgava que aquelas luzinhas eram estrelas pequeninas e ia tentar ajudá-las, mas não, aquilo era coisa de gente, era iluminação para acrescentar o dia e imitar a noite.
A estrela ficou lá presa durante toda a noite, ela bem que tentou libertar-se, mas cada vez se enroscava mais naquele emaranhado de armações e parafusos, por fim resignou-se e deixou-se ficar quieta, à espera que as suas forças a abandonassem, sabia que não iria ter forças para voltar ao céu e já tinha saudades da vista lá de cima. Adormeceu.
Chegaram as primeiras horas da madrugada, os primeiros raios de sol vieram cumprimentá-la, a estrela acordou e viu-se a diminuir de tamanho, ficou tão pequenina que ninguém a conseguia ver, nisto eleva-se como que por magia, estava tão leve que num instante chegou ao pé das suas irmãs estrelas e lá do alto ficou a contemplar aquela ponte que unia as pessoas e que à noite parecia ter estrelas a brilhar para lembrar que o céu não fica assim tão longe.